sábado, dezembro 13, 2008
Manifestação contra a "Escola das Américas" na Geórgia - EUA
quarta-feira, dezembro 10, 2008
domingo, dezembro 07, 2008
"Resta-nos uma última hipótese"
De George Monbiot. Publicado no jornal britânico "The Guardian" de 25 de Novembro de 2008
George Bush está a comportar-se como um caloteiro descontrolado cuja casa está prestes a ser arrestada. Parte as louças, arranca as portas das dobradiças, está determinado a que não reste nada de valor em casa pela altura em que os malvados o expulsem de casa. As leis de última hora aprovadas por Bush, abrindo as zonas de vida selvagem aos madeireiros e à exploração mineira, inutilizando os controlos sobre a poluição, rasgando as leis de conservação, farão quase tanto dano nos últimos 60 dias da sua presidência quanto o que conseguiu nos passados 3000 (1).
Os seus apoiantes – entre os quais os piores “polutocratas” da América – estão a reclamar os favores prestados. Mas esta última farra de vandalismo é também a presidência de Bush reduzida ao seu essencial. A destruição não é o produto acidental da sua ideologia. A destruição é a sua ideologia. O neoconservadorismo é a expressão do poder pela demonstração de que se pode reduzir a escombros qualquer parte do mundo.
Se já fôr demasiado tarde para prevenir que as alterações climáticas fujam do nosso controle, a equipa de Bush deve arcar com grande parte da responsabilidade. A sua desvalorização consciente do “Clima Médio” – o interlúdio de temperaturas benignas que permitiram o florescimento da civilização humana – torna o assassínio em massa engendrado no Iraque “apenas” o segundo dos seus crimes cometidos contra a Humanidade. Bush moveu a sua guerra contra a ciência com a mesma obtusa determinação com a qual moveu a guerra ao terrorismo.
Será tarde demais? Afirmá-lo é torná-lo real. Sugerir que não há nada a fazer é assegurar que nada será mesmo feito. Mas mesmo um optimista resoluto como eu encontra cada vez mais dificuldade em convocar a esperança. Um novo sumário da investigação científica publicada desde a divulgação no ano passado do relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas) sugere que – com quase um século de avanço em relação ao previsto anteriormente – poderão ter-se já iniciado processos climáticos críticos (2).Há apenas um ano, o IPCC avisou que “se projecta que o gelo marinho [do Árctico] no fim do Verão venha a desaparecer na quase totalidade lá para o fim do século XXI...segundo alguns modelos.”(3) Mas, como mostra o novo relatório do “Public Interest Research Centre (PIRC)”, os cientistas prevêem agora o fim do gelo marinho no fim do Verão dentro de 3 a 7 anos. A trajectória do derretimento actual mergulha nos gráficos como um meteorito caindo do céu.
Esqueçam o disparate acerca dos ursos polares: isto é sobre todos nós. À medida que o gelo desaparece, a região escurece, o que significa que absorve mais calor. Um recente artigo científico publicado na “Geophysical Research Letters” mostra que o aquecimento adicional causado pelo desaparecimento do gelo marinho penetra 1.500 km terra adentro, cobrindo quase toda a região de “permafrost” contínuo .(4) O “permafrost” do Árctico contém o dobro do carbono existente em toda a atmosfera global (5). Permanece seguro enquanto o solo se mantiver gelado. Mas o derretimento já começou. Jactos de metano estão agora a libertar-se em algumas zonas com tal intensidade que mantêm as águas abertas nos lagos do Árctico, durante todo o Inverno. (6)
Os efeitos do derretimento do “permafrost” não estão incorporados em nenhum modelo climático global. Um aquecimento descontrolado do Árctico poderia por si só fazer pender todo o planeta para um novo estado climático. O “Clima Médio” poderia colapsar mais rapidamente e mais cedo do que a mais horrível das previsões já apresentada.
O discurso de Barack Obama na cimeira do clima nos EUA da semana passada foi um espantoso desenvolvimento (7). Mostra que, pelo menos a este respeito, há realmente uma perspectiva de uma profunda mudança política na América. Mas à medida que ele descrevia um plano de trabalho para lidar com o problema à luz de como era visto na altura da Cimeira da Terra de 1992, as medidas que propõe estão agora irremediavelmente fora de tempo. A ciência avançou entretanto. Os acontecimentos que os processos da Cimeira da Terra e de Kyoto eram suposto terem prevenido estão já a acontecer. Graças às tácticas destrutivas de Bush, o Velho, Clinton (e Gore) e Bush júnior, programas graduais e ponderados do tipo que Obama agora propõe são irrelevantes. Como o relatório do PIRC sugere, os anos de sabotagem e procrastinação deixaram-nos com apenas um último fôlego: um programa de choque para uma total reconversão energética. Um artigo do Centro Tyndall para a Investigação sobre Alterações Climáticas mostra que, se quisermos ter uma hipótese razoável de impedir mais que 2º C de aquecimento, as emissões globais provenientes da utilização de energia deverão atingir o pico em 2015 e diminuir entre 6 a 8% por ano de 2020 a 2040, conduzindo a uma total descarbonização da economia global logo após 2050 (10). Mesmo esta linha de acção apenas resultaria, se algumas hipóteses optimistas acerca do comportamento da biosfera se viessem a verificar. Garantir uma elevada probabilidade para prevenir um aumento da temperatura de 2º C significaria cortar as emissões globais em mais de 8% por ano.
É isto possível? È aceitável? O artigo do Centro Tyndall salienta que reduções anuais das emissões superiores a 1% “têm estado associadas apenas com a recessão económica ou turbulência.”
Quando a União Soviética colapsou, as emissões baixaram cerca de 5% por ano. Mas só podemos responder a estas questões considerando as alternativas. A trajectória que tanto Barack Obama e Gordon Brown propuseram – redução de 80% até 2050 - significa reduzir as emissões a uma média de 2% ao ano. Este plano, como sugerem os dados do artigo do Centro Tyndall, irá provavelmente comprometer o mundo com um aquecimento de pelo menos 4 a 5ºC , o que significa o provável colapso da civilização humana em grande parte do planeta. É isto aceitável?
Os custos de um plano para a total reconversão e conservação energética seriam astronómicos, a velocidade da implementação necessária, improvável. Mas os governos dos países ricos já implementaram um esquema como este para outro fim. Um inquérito realizado pela cadeia de televisão CNBC sugere que o governo federal dos EUA gastou até agora 4.2 biliões (10^12) de dólares em resposta à crise financeira, mais que o total gasto na II Grande Guerra Mundial quando ajustado pela inflação (12). Queremos ser lembrados como a geração que salvou os bancos e deixou colapsar a biosfera?
Esta abordagem é desafiada pela pensadora americana Sharon Astyk. Num interessante novo ensaio, ela salienta que a substituição da infraestrutura energética do planeta envolve “um enorme gasto inicial de combustíveis fósseis”, necessários para o fabrico de aerogeradores, carros eléctricos, novas ligações à rede eléctrica, isolamentos térmicos e tudo o resto (13). Isto poderia conduzir-nos para além dos pontos de viragem (sem retorno) climáticos. Em alternativa, propõe ela, devemos pedir às pessoas para “fazerem sacrifícios radicais com resultados a curto prazo”, reduzindo o nosso consumo energético em 50%, com pouca assistência tecnológica, em cinco anos. Existem dois problemas: o primeiro é que todas as tentativas anteriores demonstram que confiar na abstinência voluntária não resulta. O segundo é que uma redução anual de 10% no consumo energético com a infraestrutura permanecendo praticamente intacta significa uma redução anual de 10% no consumo total: uma depressão mais profunda do que alguma vez experimentada pelo mundo moderno. Nenhum sistema político – nem mesmo uma monarquia absoluta – poderia sobreviver a um colapso económico desta escala.
Ela tem razão quanto aos riscos de um novo contrato tecnológico verde , mas estes são riscos que devemos assumir. As propostas de Astyk viajam bem adentro do domínio do “pensamento positivo”. Mesmo a solução tecnológica que favoreço habita as distantes margens do possível.
Podemos fazê-lo? Não tenho a resposta. Revendo os dados novos, tenho que admitir que se calhar já vamos demasiado tarde. Mas há outra pergunta à qual posso responder mais facilmente. Podemos dar-nos ao luxo de não tentar? Não podemos.
Referências:
1. Suzanne Goldenberg, 20th November 2008. Presidente por mais 60 dias, Bush dá cabo da protecção do mundo selvagem da América. The Guardian
2. Public Interest Research Centre, 25th November 2008. Climate Safety. www.pirc.info
3. Intergovernmental Panel on Climate Change, Working Group I. Technical Summary , p73.
4. David M. Lawrence et al., 2008. Accelerated Arctic land warming and permafrost degradation during rapid sea ice loss. Geophysical Research Letters, Vol. 35, 11506. Ver aqui .
5. Edward A. G. Schuur et al, September 2008. Vulnerability of permafrost carbon to climate change: implications for the global carbon cycle. Bioscience, Vol. 58, No. 8, pp. 701-714. Ver aqui .
6. United Nations Environment Project, 4 June 2007. Melting Ice - a Hot Topic? Press Release
7. Ver aqui
8. Kevin Anderson and Alice Bows, 2008. Reframing the climate change challenge in light of post-2000 emission trends. Philosophical Transactions of the Royal Society A. Published online . Anderson e Bows afirmam que “O quadro da política das alterações do clima tem como referência o limite dos 2ºC; no entanto, mesmo estabilizando a 450 ppmv CO2e [partes por milhão de dióxido de carbono equivalente] existem apenas 46% de probabilidades de esse limite não ser ultrapassado" Esta estimativa é dada no seguinte trabalho:
9. Malte Meinshausen, 2006. What Does a 2°C Target Mean for Greenhouse Gas Concentrations? A Brief Analysis Based on Multi-Gas Emission Pathways and Several Climate Sensitivity Uncertainty Estimates. In Hans Joachim Schellnhuber (Ed in Chief). Avoiding Dangerous Climate Change. Cambridge University Press.
10. Isto é para a estabilização a 450 ppmv CO2e - bem acima do nível que James Hansen e outros cientistas climáticos estão a apelar.
11. Anderson e Bows notam que até estabilizar as concentrações atmosféricas a 650 ppmv CO2e requere que as emissões globais atinjam um pico até 2020, seguido de cortes globais de 3 a 4% ao ano. Isto significa que as nações da OCDE devem reduzir as suas emissões ainda mais para prevenir que as concentrações subam acima dos 650.Meinshausen estima que estabilizar a 650 ppmv CO2e significa uma probabilidade de 40% de exceder os 4ºC.
12. CNBC.com, 17th November 2008. Financial Crisis Tab Already In The Trillions
13. Sharon Astyk, 11th November 2008. A New Deal or a War Footing? Thinking Through Our Response to Climate Change.
Sítio do autor: Monbiot.com
P.S. Entretanto, Sharon Astyk respondeu a Monbiot.
sábado, dezembro 06, 2008
Uma mobilização de tempo de guerra
Há muitas coisas que não sabemos sobre o futuro. Mas uma coisa que sabemos é que o “business as usual” / “manter tudo na mesma” não vai continuar por muito mais tempo. Uma transformação/mudança maciça é inevitável. Será que essa mudança advirá de nos movermos rapidamente para reestruturar a economia ou porque falhamos na acção e a civilização se desfaz?
Salvar a civilização exigirá uma mobilização maciça/massiva, à velocidade do tempo de guerra. A analogia mais próxima é a tardia mobilização dos Estados Unidos durante a II Guerra Mundial. Mas ao contrário desse capitulo da História, em que um país reestruturou totalmente a sua economia, a mobilização do “Plano B” requer acção decisiva à escala global. Na frente climática, as atenções oficiais deslocaram-se agora para as negociações pós- Protocolo de Quioto, para reduzir as emissões de carbono. Mas isso levará anos. Precisamos de agir agora. Não há simplesmente tempo para negociações de anos e depois mais anos para a ratificação de outro acordo internacional.
É tempo de os países individualmente tomarem iniciativas próprias. A Nova Zelândia mostra o caminho, tendo anunciado em 2007 que irá aumentar a quota das energias renováveis na produção de electricidade de 70%, sobretudo hidro e geotermal, para 90% até 2025. O país planeia reduzir para metade as emissões “per capita” de dióxido de carbono dos transportes até 2040. Para além disto, a Nova Zelândia planeia expandir a sua área florestada em cerca de 250.000 hectares até 2020, sequestrando à volta de 1 milhão de toneladas de carbono por ano.
Sabemos da nossa análise do aquecimento global, da aceleração da deterioração dos suportes ecológicos da economia, e das nossas projecções sobre a utilização futura de recursos pela China, que o modelo económico ocidental - baseado em combustíveis fósseis, centrado no automóvel e numa economia do descartável – não durará por muito mais tempo. Necessitamos de construir uma nova economia, uma que seja alimentada por fontes de energia renovável, que tenha um sistema de transportes diversificado e que reutilize e recicle tudo.
Podemos descrever esta nova economia com algum detalhe. O problema é como fazer a transição antes que o tempo se esgote. Será que podemos alcançar os pontos de viragem políticos que nos permitam reduzir as emissões de carbono antes que alcancemos os pontos de viragem ecológicos que tornem irreversíveis o derretimento dos glaciares dos Himalaias? Seremos capazes de travar a desflorestação da Amazónia antes que seque, se torne vulnerável aos fogos, e se converta num deserto?
E se daqui a três anos os cientistas anunciassem que esperámos demasiado tempo para reduzir as emissões de carbono e que o derretimento da calota de gelo da Gronelândia se tornara irreversível? Como é que nos afectaria a constatação de que éramos responsáveis pela emergente subida do nível do mar em 7 metros e centenas de milhões de refugiados? Como é que isso afectaria o sentido de nós próprios, de quem somos? Poderia desencadear uma fracturação da sociedade ao longo de linhas geracionais como as mais familiares fracturas das sociedades ao longo de linhas raciais, religiosas ou étnicas. Como responderemos às nossas crianças quando perguntarem “Como nos puderam fazer isto? Como puderam deixar-nos perante tamanho caos?”
Como vimos, um sistema de contabilidade empresarial que deixou custos fora do balanço/dos “livros” conduziu a Enron, uma das maiores empresas dos EUA, à falência. Infelizmente, o nosso sistema de contabilidade económica global, que também deixa custos fora do balanço, tem consequências potencialmente bem mais sérias.
A chave para construirmos uma economia global que possa suster o progresso económico é a criação de um mercado honesto, um que tenha em conta a verdade ecológica. Para criar um mercado honesto, precisamos de reestruturar o sistema fiscal, reduzindo os impostos sobre o trabalho e elevando-os para variadas actividades ambientalmente destrutivas por forma a que incorporem os custos indirectos no preço de mercado. Se conseguirmos que o mercado diga a verdade, então poderemos evitar ser desagradavelmente surpreendidos por um sistema de contabilidade falho que conduz à bancarrota. Como observou Øystein Dahle, ex-vice-presidente da Exxon para a Noruega e Mar do Norte,: “o Socialismo colapsou porque não permitiu que o mercado revelasse a verdade económica. O Capitalismo poderá colapsar porque não permite que o mercado conte a verdade ecológica."
Quando consideramos uma mobilização para salvar a civilização, vemos quer similitudes quer contrastes com a mobilização para a II Guerra Mundial. Neste último caso, houve uma reestruturação económica, mas foi temporária. Uma mobilização para salvar a civilização, pelo contrário, exige uma reestruturação económica duradoura.
Ainda assim, a entrada dos EUA na II Guerra Mundial oferece um caso de estudo inspirador de rápida mobilização. Inicialmente, os EUA resistiram ao seu envolvimento, respondendo apenas depois de ser directamente atacado em Pearl Harbor em 7 Dezembro de 1941. Mas a resposta foi total. Depois de um compromisso integral, o empenhamento dos EUA ajudou a virar o pendor da guerra, conduzindo as Forças Aliadas à vitória dentro de três anos e meio.
No seu discurso sobre o Estado da Nação a 6 de Janeiro de 1942, um mês após o bombardeamento de Pearl Harbor, o Presidente Roosevelt anunciou os objectivos do país para a produção de armamento. Os EUA, disse ele, planeavam produzir 45.000 tanques, 60.000 aviões, 20.000 armas anti-aéreas, e 6 milhões de toneladas de marinha mercante. Acrescentou, “Que ninguém diga que não pode ser feito”.
Ninguém jamais vira tais gigantescos números de produção de armas. Mas Roosevelt e os seus colegas compreenderam que a maior concentração mundial de capacidade industrial ao tempo estava na indústria automóvel dos EUA. Mesmo durante a Grande Depressão, os EUA estavam a produzir 3 milhões ou mais de automóveis por ano. Depois do seu discurso sobre o Estado da Nação, Roosevelt encontrou-se com os líderes da indústria automóvel e disse-lhes que o país dependeria fortemente deles no sentido de alcançar estes objectivos de produção de armas. De início, eles queriam continuar a produzir automóveis e simplesmente acrescentar a isso a produção de armamento. O que eles ainda não sabiam é que a venda de novos carros seria banida brevemente. Desde o início de 1942 até ao fim de 1944, quase três anos, não houve praticamente produção de automóveis nos Estados Unidos.
Adicionalmente à proibição da produção e venda de automóveis para uso privado, a construção de habitação e auto-estradas foi suspensa, e a condução recreativa banida. Bens estratégicos – incluindo pneus, gasolina, combustível para aquecimento, e açúcar – foram racionados a partir de 1942. A redução do consumo privado destes bens libertou recursos materiais que eram vitais para o esforço de guerra.
O ano de 1942 testemunhou a maior expansão da produção industrial na história da nação - toda para uso militar. Desde o início de 1942 até 1944, os EUA excederam largamente o objectivo inicial de 60.000 aviões, lançando uns espantosos 229.600 aparelhos, uma frota tão vasta, dificil de imaginar mesmo nos dias de hoje. Igualmente impressionante, por altura do fim da guerra, mais de 5.000 barcos foram acrescentados aos cerca de 1000 que constituíam a Marinha Mercante Americana em 1939. No seu livro “Tempos Incomuns” (“No Ordinary Time”), Doris Kearns Goodwin descreve como várias firmas se converteram. Uma fábrica de velas de ignição esteve entre as primeiras a mudar para a produção de metralhadoras. Rapidamente, um produtor de fogões estava a produzir barcos salva-vidas, uma fábrica de carrosséis estava a fazer peças de artilharia; uma companhia de brinquedos estava a lançar bússolas; um fabricante de corpetes estava a produzir cintos para granadas; e uma fábrica de máquinas para jogos (flippers) começou a produzir obuses perfurantes de blindagem.
Em retrospectiva, a velocidade desta reconversão da economia em tempo de paz para uma economia de guerra é surpreendente. O domínio do poder industrial dos Estados Unidos fez virar a balança decisivamente para as Forças Aliadas. Winston Churchill citava frequentemente o seu ministro dos negócios estrangeiros, Sir Edward Grey: “ Os Estados Unidos são como uma caldeira gigante. Uma vez que é acendido o fogo debaixo dela, não há limite à energia que pode gerar".
Esta mobilização de recursos numa questão de meses demonstra que um país e, na realidade, o mundo, pode reestruturar a economia rapidamente se fôr convencido da necessidade de o fazer. Muita gente – embora ainda não a maioria – estão já convencidas da necessidade de uma reestruturação global da economia. O propósito do meu livro Plano B 3.0 é convencer mais pessoas desta necessidade, ajudando a virar a balança em direcção às forças da mudança e da esperança.
Adaptado do capítulo 13, “A Grande Mobilização” in “Plano B 3.0: Mobilização para Salvar a Civilização” de Lester R. Brown (New York: W.W. Norton & Company, 2008), disponível para descarga gratuita.
domingo, novembro 23, 2008
WEO 2008 - Relatório da Agência Internacional de Energia
Este relatório marca um ponto de viragem na posição da AIE, habitualmente muito conservadora (leia-se, optimista) nas suas projecções, embora o relatório de 2007 já alertasse para os desafios do impacto da China e Índia.Até aqui, os modelos da AIE calculavam as necessidades energéticas mundiais (procura) e assumiam que a indústria envidaria todos os esforços para responder do lado da oferta, e estava o problema resolvido, como se não houvesse qualquer limite geológico. Esta lógica deriva de uma crença cega - a ideologia do crescimento - que se recusa a constatar a evidência da finitude dos recursos naturais. Claro que deriva também da necessidade de não contrariar em demasia o seu “patrão”, “dono” de um sistema capitalista voraz por recursos, muito menos nesta altura de crise! Daí uma certa esquizofrenia.
A AIE vem admitir, finalmente, que os actuais padrões de consumo são insustentáveis. São insustentáveis porque a análise que fez de cerca de 800 poços de petróleo em exploração revelam já taxas de declínio da produção significativas (entre os 6 e os 9% ano, bem mais do que o admitido até há pouco), bem como porque continuar o “business as usual” em termos de consumo energético baseado em combustíveis fósseis conduzir-nos-á a um aumento médio das temperaturas globais que poderão atingir os 6º C até final do século, o que poderia ameaçar a própria existência da espécie humana à face da Terra! Esta admissão é bastante significativa! No entanto, a esquizofrenia revela-se na medida em que este “pormenor” é rapidamente esquecido e a AIE volta, ela própria, ao “business as usual”, garantindo que há petróleo para satisfazer uma procura de 106 milhões de barris/dia (mbd) em 2030 se forem realizados os investimentos necessários (cerca de 350 mil milhões de dólares ano até 2030 - total acumulado de $8.4 biliões - 10^12 - em dólares de2007). Muitos analistas consideram estas projecções totalmente irrealistas uma vez que estimam que seriam necessárias 6 “novas” Arábias Sauditas para fornecer a diferença entre o consumo estimado até 2030 face à produção actual (cerca de 86 mbd) bem como para substituir a produção de petróleo dos actuais poços em declínio.
A actual crise económico-financeira (dificuldades de financiamento e baixa conjuntural do preço do petróleo) está já a compromenter, a suspender mesmo, investimentos em nova exploração com impacto na produção a breve prazo.
Tirem as vossas conclusões sobre o que aí vem, à luz dos acontecimentos ocorridos este ano: “lock-outs” de camionistas, aumentos dos preços dos alimentos, etc.
quarta-feira, novembro 19, 2008
terça-feira, novembro 18, 2008
quarta-feira, novembro 12, 2008
John Stuart Mill
in John Stuart Mill, The Collected Works of John Stuart Mill, Volume III - The Principles of Political Economy with Some of Their Applications to Social Philosophy (Books III-V and Appendices)
quarta-feira, novembro 05, 2008
Paraísos Fiscais
Não se trata de um fenómeno natural, independente da nossa vontade. Na sua quase totalidade, estes territórios são antigas feitorias das colónias britânicas, francesas, espanholas, ou holandesas. Desenvolveram-se no nosso seio. São apenas sucursais de Londres, Nova Iorque, Tóquio, Frankfurt ou Paris, onde está o coração da finança. O jogo duplo não é inocente. Como se fosse necessária uma certa opacidade para garantir margens que a transparência devora.
Há alguns anos, o procurador do Condado de Nova Iorque, Robert Morgenthau, denunciou essa hipocrisia a propósito das ilhas Caimão, um dos dez primeiros centros financeiros do planeta. "A opacidade é a palavra mestra. Em matéria de regulamentação, a praça ganha o prémio do laxismo. No entanto, as ilhas Caimão pertencem à Coroa Britânica. O seu governador, tal como o seu ministro da Justiça, são nomeados por Londres. O Reino Unido tem, portanto, o poder de pôr fim ao deixa-andar na sua colónia mas não faz nada. Da mesma maneira, sob o ponto de vista financeiro, o arquipélago é uma dependência norte-americana - na realidade, a maior parte dos bancos offshore das ilhas Caimão é gerida por Wall Street. Washington também pode pôr fim às manigâncias offshore. Mas ninguém se mexe."1
É um desvio do direito, um abuso político cujo preço deverá ser pago pelas gerações futuras.» o futuro é hoje! digo eu!!
1 The New York Times, de 10 de Outubro de 1998
in Est-ce dans ce monde-là que nous voulons vivre? publicado em Portugal pela Editorial Inquérito em 2003. Autora: juíza franco-norueguesa Eva Joly - famosa pelo caso Elf.
quinta-feira, outubro 09, 2008
Deflação ou inflação?
O BCE deve ou não baixar as taxas de juro?
O Banco Central Europeu tem resistido às pressões para baixar as taxas de juro com o argumento de que é necessário controlar a inflação. Esta atitude demonstra miopia ou mesmo cegueira perante os acontecimentos que se estão a desenrolar a uma velocidade vertiginosa.
[entretanto, o BCE baixou as taxas em 0.5%, mas vejam a opinião deste assíduo comentador do canal Bloomberg]
O principal perigo que a economia internacional enfrenta não é a inflação, mas sim a deflação, ou seja, uma depressão económica profunda, acompanhada da redução generalizada dos preços e salários.
Essa deflação está já a acontecer nos preços da habitação nos EUA (quedas percentuais de 2 digitos) e no Reino Unido.
A crise do crédito (“Credit Crunch”) está a paralisar a actividade económica. A negociação de papel comercial nos EUA sofreu uma forte redução (The U.S. commercial paper market has dropped $264 billion in four weeks and fell $56.4 billion, or 3.5 percent, to a seasonally adjusted $1.55 trillion for the week ended Oct. 8, the Fed said; fonte Bloomberg). A desconfiança instalada entre os próprios bancos está a fazer disparar a LIBOR e a EURIBOR, indexantes de stocks de dívida gigantescos (só os relativos à LIBOR ascenderão a 350 biliões de dólares 350*10^12, segundo o blog “debtonation”); os “spreads” estão a aumentar e a dificuldade em obter crédito está a alastrar ao ponto de a próxima dor de cabeça da Federal Reserve dos EUA ser a resposta a dar aos pedidos de auxílio dos governos estaduais, locais, empresas de serviços públicos como a electricidade (“utilities”) e até grandes empresas privadas : “Fed May See Lending to Companies, States as Next Crisis Fronts”
Os bancos estão descapitalizados porque adquiriram activos sem valor. A compra desses “activos” - que não eram mais que títulos de dívida - serviu para alimentar um crescimento económico assente no consumo, sobretudo nos EUA. A festa acabou, pelo menos para alguns, a maioria! Não há dúvida que os bancos precisam de ser re-capitalizados (“bail-out”), mas não de qualquer forma. Os grandes accionistas e investidores, bem como os gestores, devem ser penalizados. No entanto, parece ser o contribuinte e o pensionista a sair prejudicado. Claro que nalguns casos, estas figuras se confundem. Os fundos de pensões, por exemplo!
Como diz Ann Pettifor, a criação de crédito numa economia moderna desregulamentada não derivou das poupanças acumuladas depositadas nos bancos, mas precisamente o contrário, ou seja, foi o crédito que gerou depósitos. A criação de moeda, e a consequente montanha de dívida gerada, foi obra de um sector bancário sem freio. Daí o problema da alavancagem do sistema financeiro, ou seja, os bancos emprestaram muito acima (várias vezes, em alguns casos dezenas de vezes!) dos depósitos que suportavam esses créditos. Agora que a economia está à beira da recessão, os bancos vêem-se a braços com dívidas incobráveis e sem liquidez. De modo que a reposição de alguma liquidez não vai aumentar a massa monetária, vai simplesmente compensar o seu desaparecimento no buraco negro da dívida titularizada sem valor.
Além disso, nas últimas décadas, observou-se uma gigantesca concentração do rendimento e da riqueza (ver artigo do Michael Moore – este refere que as 400 pessoas mais ricas dos EUA concentram tanto rendimento quanto 150 milhões de americanos, metade da população!). O aumento do preço do petróleo também contribuíu (e continuará a contribuir) para a transferência e concentração de riqueza num punhado de países e famílias.
Todos estes factores são indutores de quebra acentuada da actividade económica. O risco maior é portanto de uma profunda deflação. O Japão, por exemplo, vive em deflação/estagnação há cerca de 15 anos. Mesmo o aumento acentuado do preço do petróleo, embora numa fase inicial possa pressionar o índice de preços, tende, devido à transferência maciça de rendimento, a provocar um efeito deflacionista. É o que está a acontecer nos EUA, com a redução já significativa do consumo de gasolina e “jet fuel”.
A desregulamentação dos mercados financeiros permitiu o acesso ao mercado de crédito a actores cuja actividade principal (“core business”) não era a concessão de crédito, nomeadamente grandes empresas industriais e de comércio. Temos, por exemplo, a General Electrics a conceder crédito de curto prazo através do nosso conhecido GE Money, tivemos a Siemens a lucrar mais com operações financeiras do que com a sua actividade fundamental de produtor de equipamentos (ver a “Armadilha da Globalização, Terramar 1998”).
Estes casos traduzem um padrão – da chamada “economia de casino” que consiste em fazer dinheiro a partir do dinheiro – que se reflectiu numa divergência entre as taxas de lucro e as taxas de acumulação, entendendo-se estas como taxas de investimento líquido, ou seja, taxas de variação da capacidade produtiva. Como é evidente, não é possível sustentar indefinidamente uma economia de casino.
Esta concentração de rendimento e da riqueza, acentuada por altas taxas de juro reais e deflação num contexto de uma gigantesca montanha de dívida é uma verdadeira bomba atómica!
O que nós precisamos é de inflação, para erodir esta dívida! Um funcionamento “são” de uma economia “capitalista” depende de uma certa redistribuição do rendimento e da riqueza!
Claro que não chega baixar as taxas de juro dos bancos centrais, como se viu hoje , é necessário ir mais além e exigir a alteração de um sem número de arranjos institucionais. É necessário, por exemplo, exigir que a prerrogativa de fixar todas as outras taxas saia da órbita de um pequeno grupo privado, como também recomenda Ann Pettifor.
sexta-feira, setembro 26, 2008
domingo, agosto 31, 2008
sábado, agosto 16, 2008
domingo, agosto 03, 2008
sábado, agosto 02, 2008
"The Commons"
Ao mercado tende-se a contrapor o Estado. No entanto, também este tem as suas "falhas de governo". O Estado pode conceder privilégios a certos grupos, fruto de relações pouco transparentes. Em Portugal proliferam os grupos empresariais que vivem de “rendas” protegidas pelo Estado, contribuindo assim para o atraso económico e o empobrecimento generalizado. Mas existe uma terceira alternativa (na realidade todos estes instrumentos, mercado, Estado e “commons” têm o seu papel) menos abordada, mas que tem dado mostras de muita utilidade e que merece mais atenção, sobretudo no mundo actual em que se vislumbra uma catástrofe ecológica e civilizacional. Trata-se dos "Bens Comuns ou Públicos" ou "The Commons". Os “comuns”, ou “bens públicos” baseiam-se na ideia de que algumas formas de riqueza pertencem a todos nós, e que estes recursos da comunidade devem ser activamente protegidos e geridos para o bem comum. “São aquilo que herdamos e criamos em conjunto”. Consistem nas dádivas da natureza como o ar, os oceanos e a vida selvagem, bem como as criações sociais partilhadas como as bibliotecas, os espaços públicos, a investigação científica e as obras criativas”.
Ficou célebre a expressão "A Tragédia dos Comuns", título de um artigo de 1968 do biólogo Garrett Hardin. A ideia subjacente era que os “Comuns” favoreciam a sobreexploração dos recursos, na medida em que cada utilizador teria um incentivo para obter a máxima quantidade possível do recurso. Esta é, de facto, uma situação corrente, responsável pelo esgotamento e destruição de florestas, bancos de pesca, etc.., Os adeptos do mercado livre viram aqui mais uma oportunidade. A solução seria privatizar o recurso antes partilhado. No entanto, a privatização não é necessariamente a solução. Se o proprietário for uma grande empresa transnacional cotada em bolsa, poderá simplesmente explorar o recurso numa óptica de curto prazo e mudar-se para outro lado quando o recurso se esgotar. De qualquer modo, outras razões tornam a privatização inviável. Jared Diamond, no seu livro “Colapso” aborda este tema com equilíbrio: «A solução que resta à Tragédia dos Comuns é os consumidores reconhecerem os seus interesses comuns e eles próprios conceberem, obedecerem, e tornarem obrigatórias quotas prudentes de exploração. Isso acontecerá tanto mais depressa quanto uma série de condições sejam obtidas: os consumidores formarem um grupo homogéneo; terem aprendido a confiar e a comunicar entre si; esperarem partilhar um futuro comum e poderem deixar o recurso para os seus descendentes; serem capazes de e autorizados a organizarem-se e vigiarem-se entre si; as fronteiras/limites do recurso e o seu conjunto de consumidores estar bem definido.»
A importância do equilíbrio social é aqui realçada por Diamond, daí que a gritante desigualdade que se regista pelo mundo fora seja mais um obstáculo à preservação dos recursos.
Com a sua compulsão para a maximização dos ganhos de curto prazo e a externalização dos custos, a apropriação pelo mercado de um número crescente de aspectos da nossa vida conduz à percepção daquilo a que se denominou de “A Tragédia do Mercado”. São exemplos o patenteamento de plantas e animais, os OGM's ou a apropriação privada do espaço público. Por outro lado, a tendência para a proliferação de direitos de propriedade/autor engendra aquilo a que alguns designaram por “A Tragédia dos Anti-Comuns”. No livro “The Gridlock Economy” ("A economia bloqueada"), Michael Heller dá como exemplo o sector farmacêutico e as telecomunicações, onde a proliferação de patentes cria obstáculos à inovação. Segundo ele “A privatização pode ir demasiado longe, ao ponto em que destrói mais do que cria riqueza. Demasiados proprietários paralisam os mercados porque toda a gente paralisa toda a gente.” P.S. a propósito, ler este artigo de Stiglitz
quinta-feira, julho 31, 2008
Um "New Deal" Verde
Na caracterização da situação económica actual, saliento o seguinte:
«Este falhanço económico tem sido exacerbado por um sector financeiro desregulado por políticos e banqueiros centrais. O sector financeiro tem-se comportado de formas que são não éticas, irresponsáveis, gananciosas e - por vezes - fraudulentas. Os donos da finança contraíram e concederam empréstimos quase sem limite, apostaram a dinheiro descuidadamente e lucraram massivamente. De modo a afirmarem-se nos casinos que entretanto surgiram, muitos no sector financeiro ludibriaram os seus colegas sobre a capacidade de solvência dos seus devedores, sobre o valor dos seus activos registados nas contas, e sobre a extensão das suas responsabilidades. Usaram contabilidade falseada para poderem pedir mais empréstimos nos mercados de capitais internacionais, pagaram elevadas comissões a agências de notação de crédito para obterem avaliações incorrectas sobre activos muito duvidosos, e depois utilizaram estas avaliações como engodo para atrair investidores, como os fundos de pensões, para a sua compra.» pág. 7 PDF.
segunda-feira, julho 28, 2008
Os gigantes asiáticos
In “State of the World 2006 – special focus : China and India” WorldWatch Institute.
quarta-feira, julho 23, 2008
Documentário "The Bottom Line - Privatizing the World"
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sábado, julho 19, 2008
Post Scriptum a Clube de Roma....Entrevista a Dennis Meadows
quinta-feira, julho 17, 2008
Matthew Simmons
Reparem no ar de espanto dos entrevistadores quando Simmons diz que uma ruptura no abastecimento de petróleo e derivados pode implicar falta de alimentos nos EUA numa semana e que é preciso alterar radicalmente a economia para uma dimensão mais local e menos dependente de combustíveis fósseis!
segunda-feira, julho 14, 2008
Humor Negro
quarta-feira, julho 09, 2008
sábado, julho 05, 2008
O Clube de Roma e "Os Limites do Crescimento"
Desde que foi publicado, "Os Limites do Crescimento" suscitaram enorme polémica, desde logo porque vieram pôr em causa a ideologia do crescimento económico, a ideia de que era possível continuar a produzir e a consumir recursos, com elevado desperdício, diga-se, como se não existissem limites para a capacidade de regeneração e assimilação pela Natureza dos resíduos produzidos, para a população que o planeta poderia suportar e para os próprios "stocks" ou dotações de minerais, combustíveis, água potável, solo arável, etc.
O que os investigadores de "Os Limites do Crescimento" pretenderam fazer foi sobretudo chamar a atenção para a natureza do crescimento exponencial e de como isso colidia com a finitude dos recursos. O objectivo deles era precisamente evitar que esta colisão existisse e, em última análise, adiar o mais possível os limites indicados nos seus próprios cenários ( de outro modo não teria valido a pena o esforço - é isto que os críticos não entendem!) . E de facto, sobretudo com os choques petrolíferos, a eficiência aumentou bastante. Mas isso não foi suficiente, e afinal o cenário de 50 anos talvez não esteja tão longe da verdade. Ler também "Revisiting The Limits to Growth: Could The Club of Rome Have Been Correct, After All?"
domingo, junho 29, 2008
O "pico do Fósforo"
Richard Heinberg é o autor de um livro - "Peak Everything: Waking Up to the Century of Declines" - que nos explica como, em certa medida, o esgotamento do petróleo, mas também do carvão e do gás natural, está na origem do esgotamento de uma série de outros recursos.O fósforo - para o qual não existe substituto sintético - é essencial à vida e sem ele a agricultura não é possivel. O desenvolvimento dos biocombustíveis - uma das fugas em frente perante o anúncio do Pico do Petróleo - veio acelerar a utilização deste mineral finito. Os cientistas alertam agora que, se não for devidamente acautelada a gestão deste recurso, o seu pico de produção poderá ocorrer dentro de 30 anos, podendo esgotar-se dentro de 50 a 100 anos. Este é mais um alerta para os métodos insustentáveis da agricultura intensiva.
A importância deste recurso é tal, que há quem já fale em "phosphorus security", dada a concentração das rochas de fosfato num pequeno número de países. No mapa geopolítico do fósforo, destaca-se Marrocos, com 32% das reservas mundiais provadas, segundo o artigo de "The Times".
Uma nota curiosa. Segundo "The Times", os previdentes suecos já estão a desenvolver sistemas que permitam recolher a urina para daí reciclar o fósforo, até porque ao ritmo de evolução dos preços (700% nos últimos 14 meses) é de facto um bem precioso.
quinta-feira, junho 26, 2008
Robert Hirsch: Petróleo nos US$500 em 5 anos
Comentário de James Kunstler sobre este vídeo
quarta-feira, junho 25, 2008
Depoimento de James Hansen ao Congresso: foi há 20 anos...!
Frases fortes do discurso: "[...] o clima está a aproximar-se de pontos de viragem perigosos. Elementos para uma “tempestade perfeita”, um cataclismo global, estão a aglomerar-se. [...]
Mais sobre o acontecimento aqui
terça-feira, junho 24, 2008
350.org: Porque o mundo precisa de saber...
quarta-feira, junho 11, 2008
O Mercado de Futuros
A propósito do preço do petróleo
Retirado de "Please Explain"
"The root cause is supply and demand" - a causa fundamental da variação do preço tem a ver com a oferta e a procura.
Outra entrevista (audio) com Chris Skrebowski.
Além disso, a petrolífera russa Gazprom avisa que o recente aumento do preço do petróleo é apenas o princípio. Poderemos ver o preço em US$250 num horizonte não muito distante ("foreseeable future").
Ler também "Jerome a Paris" sobre o preço do Petróleo.
Os especuladores, pelos vistos, também apostam na baixa do preço. E enganam-se!
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sábado, junho 07, 2008
O preço do petróleo e a "deglobalização"
Este alerta vinha a ser lançado de há muito (ver aqui), com pouco impacto sobre os "media" e os fazedores de opinião "mainstream". Talvez seja altura de reconsiderarem.
sexta-feira, maio 30, 2008
Travelling Light: o renascimento do velho dirigível?
George Monbiot escreveu um interessante artigo sobre a possibilidade do regresso dos "airships", os "cruzeiros do ar".
terça-feira, maio 27, 2008
Os alertas de Fatih Birol (AIE) - 2ª parte
Vale a pena continuar a ler o resto da entrevista a Fatih Birol.
Destaco esta pergunta:
«Mas não é tempo de dar um sinal claro? Especialmente quando muito dinheiro é erradamente investido nos países da OCDE - por exemplo na construção de novos aeroportos, muito embora não venha a existir petróleo suficiente para aumentar constantemente as viagens aéreas?»
resposta:
Não só dizemos isso aos nossos países membros, [...]
Será que o Governo Português percebeu a mensagem?
quinta-feira, maio 22, 2008
Fórum de discussão MeteoPT
Um muito interessante fórum de discussão sobre meteorologia e clima.
Um dos temas em discussão: "A economia das Alterações Climáticas".
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O preço do petróleo e a especulação.
Sobre a especulação, e como ela não desaparecerá tão cedo:
Na realidade não se trata apenas, e sobretudo, de especulação. Caso contrário, os preços não manteriam esta sustentação a níveis tão altos durante tanto tempo. Quando o preço estava a 50 dólares já se falava em especulação.
terça-feira, maio 20, 2008
Os avisos de Fatih Birol (AIE), em entrevista.
sábado, maio 17, 2008
A Insegurança Alimentar e os Estados Falhados
«It is an accepted axiom of the modern age that distance no longer matters.»
A revista Foreign Policy publica todos os anos, na sua edição de Julho/Agosto, o Índice dos Estados Falhados (ou em risco) elaborado pelo The Fund for Peace e pelo Carnegie Endowment for International Peace.
O Índice é construído com base numa série de indicadores sociais, económicos e políticos , tais como:
- pressões demográficas;
- movimento maciço de refugiados e deslocados internos, que geram graves crises humanitárias;
- violência entre grupos étnicos;
- acentuado declĩnio económico;
- desigualdades económicos entre diferentes grupos/etnias;
- criminalização ou deslegitimação do Estado;
- progressiva deterioração dos serviços públicos;
- ascensão de elites que representam facções;
- intervenções externas nesses países.
A insegurança alimentar, ou seja, a disponibilidade e acesso aos alimentos, tem vindo a agravar-se num número crescente de países e existe uma certa equivalência entre os países que ocupam o Top 20 da tabela do Índice dos Estados Falhados e aqueles onde se verificam motins pelo aumento dos preços dos alimentos. Ler Deteriorating Oil and Food Security, pág. 46.
Como se sabe, algumas das razões desta crise alimentar podem ser imputadas aos países ricos: o incentivo aos agrocombustíveis, a relativa indiferença pelas alterações climáticas, as políticas comerciais, etc.
Ora, os países ricos parecem comportar-se como se as consequências das suas acções não pudessem ter um efeito de "boomerang". No entanto, dizem-nos que querem combater o terrorismo e que a sua presença no Afeganistão é para assegurar que o país não caia outra vez no caos. Já começam a admitir, finalmente, que não conseguem controlar a situação. Já se fala em desviar um oleoduto proveniente da Ásia Central, fazendo-o passar pelo Paquistão, outro país em risco, com a agravante de possuir armas nucleares.
Por outro lado, existe outra contradição. A economia globalizada significa que estamos dependentes de uma infraestrutura que transporta bens essenciais a essa economia, nomeadamente matérias-primas e energia. Ora, muitos destes estados desintegrados ou em vias de, são fornecedores ou dão passagem à circulação destes bens. Como se pode esperar que os países ricos não venham a pagar caro a sua imprudência? Um exemplo recorrente é a Nigéria, maior exportador de petróleo de África. As desigualdades, como refere o Fundo para a Paz, estão na origem das constantes sabotagens dos rebeldes do Delta do Níger. Recentemente, assistimos a actos de pirataria dos tempos modernos: um pesqueiro espanhol feito refém ao largo da Somália, um petroleiro japonês atacado ao largo do Yemén, e os exemplos repetem-se.
Um dos países que corre o risco de se tornar um Estado falhado é o Egipto (veja a reportagem da Al Jazeera). No entanto, a UE quer fazer passar por lá um gasoduto. Não podemos pensar que somos imunes à desgraça dos outros.
Pico Petrolífero
Mas, para além da geologia e da tecnologia, acrescem os factores geopolíticos: a tendência é para uma concentração ainda maior das reservas nos países da OPEP, o que lhes confere maior poder para impor preços mais altos. Ainda antes do pico de produção petrolífero ser atingido, assistir-se-à ao pico das exportações de petróleo. Isto deveria ser motivo de preocupação para o nosso governo. O planeamento devia ser feito com muita antecedência para evitar rupturas ruinosas. Mas o que se ouve são promessas de grandes infraestruturas: nova ponte sobre o Tejo, novo aeroporto de Lisboa, etc. Haverá energia para tudo isto a preços que permitam a sua rentabilização? É duvidoso.
O que se devia fazer, ver: Protocolo de Esgotamento do Petróleo
segunda-feira, maio 12, 2008
Cotação do Petróleo em $US vs €
Fontes: para o preço do petróleo (EIA/EUA) ver aqui.
Para as cotações do dólar americano versus euro ver aqui e aqui.