quinta-feira, novembro 23, 2006

Os desafios da crise ambiental global para as relações internacionais


Não existem dúvidas de que estamos a viver uma crise ambiental de grandes proporções. A generalização a outras partes do mundo do modelo de desenvolvimento económico capitalista, assente num crescimento económico sem limites, está a exercer uma pressão muito forte sobre os recursos naturais e a capacidade de suporte de vida da Terra.

A WWF, num relatório recente, dizia que a Humanidade ao ritmo actual necessitaria de 2 planetas Terra em 2050 para se sustentar. E se se generalizasse o modelo americano ao mundo, necessitaríamos de 5 planetas. O rumo seguido pela China e a Índia, pelas suas dimensões, não augura nada de bom.
Curiosamente, nesse relatório, Cuba era o único país com níveis elevados de desenvolvimento que tinha uma utilização de recursos sustentável.

Uma das manifestações desta crise ambiental são as alterações climáticas. A intensidade energética das economias, baseada nos combustíveis fósseis, libertou em poucas dezenas de anos uma enorme quantidade de carbono acumulado no subsolo durante milhões de anos. Este e outros gases com efeito de estufa estão a romper delicados equilíbrios físico-químicos que já estão a ser fatais para inúmeras espécies e poderão sê-lo também para a nossa.

A Terra possui mecanismos de reposição dos equilíbrios necessários à vida que podem ser extremamente violentos, com tempos de reajustamento que não se coadunam com os tempos da civilização humana. É célebre, a este propósito, a Teoria de Gaia de James Lovelock. A violência de que falamos não é uma metáfora, é uma ameaça séria à sobrevivência de toda a civilização humana à escala planetária.

Os últimos dados da investigação científica (ver “The Weather Makers – The History and Future Impact of Climate Change” de Tim Flannery) sobre as alterações climáticas revelam uma evolução preocupante do fenómeno, pior do que a que se previa ainda há poucos anos. As incertezas têm sido até aqui no sentido da subestimação do problema. O ritmo de derretimento do gelo é 2 vezes superior ao que se pensava ainda há pouco tempo. Só na Gronelândia há gelo suficiente para fazer subir o nível médio das águas do mar em 6 a 7 metros. Num cenário destes, todas as cidades costeiras do planeta ficariam alagadas. Mas existem consequências potenciais das Alterações Climáticas bem piores, por difícil que possa parecer.

Não há dúvida, portanto, que estamos perante uma crise ambiental sem precedentes. Contudo, existe um problema de percepção do fenómeno. Mesmo nas sociedades complexas de hoje, as perspectivas humanas tendem a concentrar-se naquilo que é próximo, no espaço e no tempo. As pessoas preocupam-se com as questões familiares, com os problemas do seu bairro, eventualmente, com os problemas do seu país. Querem saber se têm emprego hoje, se os preços estão a subir muito, eventualmente, se virão a ter uma reforma condigna, etc..

Raramente se dão conta, ou se preocupam, com as consequências das suas acções no muito longo prazo ou em qualquer outra parte do mundo.

Esta atitude reflecte-se na política. Os políticos tendem a centrar-se na resolução dos problemas imediatos, atribuindo muita pouca importância aos interesses das gerações vindouras. A verdade é que esta atitude face à crise ambiental, repetida desde há décadas face aos avisos surgidos pelo menos desde os anos setenta, já fez com que, p.ex., o problema das Alterações Climáticas venha a ser bem grave ainda durante a vida da maior parte das pessoas hoje vivas. E como se continua a fazer muito pouco para minorar o problema, poderemos vir a ter surpresas desagradáveis muito antes do que esperávamos.

Em termos de política internacional, o predomínio é ainda o do interesse nacional estrito, com raras excepções. Os governos são responsáveis apenas pelos seus eleitores, quando o são de facto. Embora as opções de grandes potências nos afectem a todos, por exemplo se os americanos preferem andar de automóvel ou de transporte público, a verdade é que as pessoas do resto do mundo não têm maneira de influir sobre essas opções.

Ora o problema das Alterações Climáticas e da crise ambiental associada deverá obrigar a rever a base sobre a qual as relações internacionais estão assentes.

Como bem ilusta a obra de Peter Singer, “Um só Mundo, a ética da globalização”, vivemos sob uma só atmosfera, que nos torna verdadeiramente interdependentes. A atmosfera tem funcionado como uma lixeira para os resíduos do nosso estilo de vida acelerado. A atmosfera não tem fronteiras. A poluição brutal das centrais eléctricas a carvão dos EUA, da China, ou da Austrália, não pode deixar ninguém indiferente.

Num mundo denso de 6 mil milhões de pessoas, a desertificação, a escassez de água potável, a contaminação química, a insegurança alimentar, a disseminação de doenças com um potencial catastrófico como a gripe aviária, exigem dos governos do mundo uma cooperação reforçada permanente, em que os interesses mesquinhos deste ou daquele não podem prevalecer sobre o interesse comum, sob pena do desastre ser geral. E a dimensão do desastre será tal, que seria um exercício fútil tentar calcular quanto cada qual poderia perder mais ou ganhar menos.

O desenvolvimento de uma consciência global, ainda que incipiente, manifestada por ocasião dos preparativos para a Guerra do Iraque, é um sinal de esperança.

No entanto, a luta armada contra o terrorismo da Administração Bush traduz uma enorme hipocrisia e simultaneamente um grande equívoco se o objectivo é garantir a segurança dos cidadãos americanos.

Como dizia um responsável pela Agência Britânica para a Protecção da Saúde, o maior bioterrorista é a Natureza. A proliferação de doenças globais está associada a factores que incluem a aproximação do ser humano às florestas húmidas, novos processos de produção alimentar e métodos agrícolas, a explosão demográfica em cidades sem infraestruturas de saneamento básico, a crescente resistência a antibióticos, as sublevações populares e a instabilidade política.

Por outro lado, fenómenos como o Furacão Katrina puseram a nu a fragilidade da segurança de infraestruturas vitais (as mesmas definidas no Patriot Act de 2001) para a economia americana, como os portos, refinarias, etc. como denuncia o nº de Set/Out de 2006 da revista World Watch, nomeadamente os artigos “Human Security Amid Disasters – It takes more than guns and bombs” e “Katrina's National Security Impacts”. E, no entanto, não foi a Al-Qaeda que as destruiu, mas um furacão. E, se bem que a causa desse furacão em concreto não possa ser atribuível às Alterações Climáticas, a verdade é que há uma forte probabilidade de haver alguma relação.

A incapacidade do governo americano para acudir ao desastre provocado pelo Katrina revela a incompreensão sobre donde provêm os verdadeiros perigos.

Para dar uma ordem de grandeza sugestiva sobre a dimensão dos custos do furacão Katrina, ascenderam ao equivalente ao PIB combinado dos 69 países mais pobres do mundo (Fonte: World Watch Institute).

E no entanto, o Governo americano recusa-se a ratificar o Protocolo de Quioto.

A questão do Darfur é outro exemplo de uma certa forma convencional e hipócrita de encarar as relações internacionais. Atribui-se o conflito a questões étnicas e religiosas, ameaçando o governo do Sudão com uma intervenção externa. Por outro lado, culpam-se os habitantes locais por terem destruído os pastos, vitais à sua sobrevivência. No entanto, um estudo de 2003 da Universidade do Colorado, em Boulder, demonstrou que a região do Sahel (onde se inclui o Darfur) sofre de uma seca permanente que se pode atribuir a perturbações no regime de monções do Oceano Índico, por sua vez atribuíveis às Alterações Climáticas. Além disto, a poluição na Europa Ocidental teria igualmente uma importância fundamental naquela região de África.

O caso de Darfur e a disputa pela água em regiões como o Médio Oriente, são exemplos de uma luta por recursos escassos que se poderá generalizar se não existir uma cooperação internacional adequada.

O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas apresentará o Quarto Relatório de Avaliação em 2007. Na medida em que este painel, onde estão representantes de todos os governos do mundo, toma decisões por consenso, é importante que as questões políticas (interesses da OPEP, etc.) não se sobreponham à avaliação científica.

Os teóricos das relações internacionais e os políticos estão assim perante um desafio colossal: como colocar o interesse comum acima do interesse de cada Estado? Isto exigirá, certamente, uma partilha mais equitativa dos recursos naturais, uma partilha de tecnologia, enfim, um sistema económico onde a acumulação e a competição não podem ser os factores dominantes.
Ler mais...

terça-feira, outubro 31, 2006

Alterações Climáticas Relatório STERN

Este relatório, encomendado pelo Ministério das Finanças Britânico aponta as Alterações Climáticas como «a maior e mais abrangente "falha de mercado" jamais vista».
A análise custo-benefício, em termos meramente económicos, aponta para um ganho líquido de 2.5 biliões (milhões de milhões) de dólares se se enfrentar desde já o problema, reduzindo a intensidade de carbono da economia, ou seja, reduzindo as emissões de CO2 equivalente associadas às actividades humanas. A ordem de grandeza dos prejuízos que poderemos enfrentar mantendo o "Business-as-usual" só é comparável aos custos enfrentados com as Guerras Mundiais.
Ler mais...

sexta-feira, outubro 27, 2006

"Os Senhores do Tempo"



A não perder este excelente livro sobre o impacto das alterações
climáticas:

"Os Senhores do Tempo - o impacto do homem nas alterações climáticas e
no futuro do planeta"

título original "The Weather Makers: the History and Future Impact of
Climate Change"

Autor Tim Flannery

Editora: Editorial Presença - Setembro 2006 Ler mais...

segunda-feira, agosto 28, 2006

Campanha da Amnistia Internacional: excelente!

Veja esta excelente campanha de rua da Amnistia Internacional Ler mais...

quarta-feira, agosto 16, 2006

Ajude os Libaneses!

Pode ajudar as centenas de milhares de libaneses que ficaram sem casa, sem água potável, sem acesso a cuidados de saúde ou energia. Contribua para a acção no Líbano da ONGD portuguesa OIKOS. Veja como em Emergência Líbano.

Leia mais sobre a acção da OIKOS no Líbano .
Ler mais...

Centrais Nucleares: Perigo neste Verão!

Um Verão quente e seco provocou sérios problemas ao normal funcionamento das centrais nucleares em vários países europeus, noticia a revista "The Economist" (resumo da notícia) com o caso mais grave a acontecer na Suécia (central de Forsmark), onde vários reactores tiveram que ser desligados. Mais pormenores sobre o caso sueco neste comunicado de imprensa da empresa Vattenfall, responsável pela operação das centrais e nesta notícia da Greenpeace.
Ler mais...

terça-feira, agosto 15, 2006

Líbano: guerra foi planeada entre EUA e Israel

A revista New Yorker revela, num artigo do famoso jornalista Seymour Hersh, que a guerra de agressão contra o Líbano foi planeada por Israel em concertação com os EUA, muito antes do rapto dos dois soldados israelitas pelo Hezbollah, que serviu de pretexto para o iniciar do conflito.
Veja aqui uma entrevista com Seymour Hersh.
Ler mais...

segunda-feira, agosto 14, 2006

O Planeta está com febre!

Veja esta animação do Greenpeace sobre as Alterações Climáticas:
O Planeta está com febre!

Em Junho deste ano, a Academia das Ciências dos EUA publicou um estudo que diz que a temperatura da Terra verificada nos últimos 25 anos é, com grande grau de confiança, a mais alta verificada em qualquer período semelhante nos últimos 400 anos e, provavelmente, nos últimos 2000.
Relatório: sumário e muito breve .

Mesmo que algumas pessoas (por exemplo, Mitos Climáticos), incluindo cientistas (Impostura Científica), subsistam em negar a existência de alterações climáticas, ou que, a existirem, se devam, pelo menos em parte, à acção do Homem, a verdade é que, dada a natureza do problema e as suas muito prováveis consequências desastrosas , perante a dúvida deveria optar-se pela prudência e por se defender uma alteração da forma como nos relacionamos com o Ambiente. Afinal, não será de bom senso admitir que a libertação de CO2 para a atmosfera num período muito curto (cerca de 50 anos) resultante da queima de aproximadamente 50% do petróleo acumulado ao longo de milhões de anos mais a desflorestação resultante da agricultura e dos fogos tenha, de facto, um impacto sobre o clima?

É que este problema não é apenas uma discussão académica, pode ser, em última análise, uma questão de sobrevivência.

Ler mais...

domingo, agosto 13, 2006

Conflito Israelo-Árabe: Resoluções da ONU

Para que a memória sobre as origens dos acontecimentos que estão actualmente a decorrer no Médio Oriente não seja apenas a das últimas cinco semanas, eis uma lista das Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas relativas ao conflito israelo-árabe.


Ver ainda a entrevista à Sky News de George Galloway (membro do Parlamento Britânico, eleito pela Respect).

Ler mais...

sexta-feira, agosto 11, 2006

Fogos florestais: catástrofe!

Esta foto de satélite da NASA é reveladora da dimensão dos fogos florestais no Noroeste Peninsular. Ano após ano, repete-se a catástrofe ambiental. Não deve ser de admirar que a mudança climática tenha a influência do Homem, para quem ainda duvide disso!
É necessário promover uma verdadeira educação ambiental, com uma linguagem prática, que envolva toda a população, de modo a que se desenvolva uma consciência sobre a verdadeira dimensão deste problema.
Ler mais...

LÍBANO: A DESTRUIÇÃO DE UM PAÍS

Israel está há um mês a castigar todo um país de forma totalmente criminosa. Por muitas razões que Israel possa ter, e não tem muitas (ler carta de John Berger subscrita por Harold Pinter, Noam Chomsky, entre outros, dirigida à imprensa internacional; e ainda este texto da "The Christian Science Monitor" sobre a pretensa culpa do Hezbollah no iniciar deste conflito), a verdade é que se trata de uma luta absolutamente desigual e injusta para o povo libanês.
Como se pode ver neste mapa dos bombardeamentos ( actualizações do mapa aqui), Israel tem cometido verdadeiros crimes de guerra pelos quais deveria ser julgado.
Por muito simbólico que seja, subscreva a petição às Nações Unidas para a criação de um Tribunal Penal Internacional para Israel, à semelhança do que foi criado para a ex-Jugoslávia.
As condições de vida em Gaza e na Cisjordânia têm-se deteriorado, agora que as atenções estão voltadas para outro lado. Também existem organizações judaicas que estão contra esta guerra, como a Jewish Voice for Peace .
Ler mais...

sábado, agosto 05, 2006

Documentário online : a dependência do petróleo

Veja "online" o documentário "Oil Safari - A Travelogue of Addiction" em "Watch Documentary".
Este documentário baseia-se na obra do vencedor do Prémio Pulitzer PAUL SALOPEK : "A Tank of Gas , a World of Trouble"
Repare no contador de consumo de barris de petróleo nos EUA no canto superior esquerdo.
Ler mais...

PROTOCOLO DE ESGOTAMENTO DO PETRÓLEO: O LIVRO

A proposta para a implementação de um protocolo internacional que promova uma utilização mais racional de um recurso escasso e fundamental como é o petróleo foi lançada em livro. Visa esclarecer governos, empresas e cidadãos sobre as tremendas consequências do pico petrolífero para a civilização moderna. Aqui pode ler um excerto em português do Relatório feito para o Departamento da Energia dos EUA: "PEAKING OF WORLD OIL PRODUCTION:IMPACTS, MITIGATION, & RISK MANAGEMENT"
Cada pessoa pode dar a sua contribuição para a implementação deste protocolo. Veja como (em inglês)
«O Protocolo do Esgotamento do Petróleo (Oil Depletion Protocol) proporciona um caminho para o futuro. Ele foi redigido pela Association for the Study of Peak Oil (ASPO).
A ideia do Protocolo é essencialmente directa: países importadores de petróleo concordariam em reduzir as suas importações numa porcentagem anual ajustada (a Taxa de Esgotamento do Petróleo Mundial, World Oil Depletion Rate ), ao passo que os países exportadores concordariam em reduzir a sua taxa de exportações de acordo com a sua Taxa de Esgotamento nacional.
O conceito de Taxa de Esgotamento é talvez o aspecto técnico mais desafiador do Protocolo, apesar de ser fácil apreende-lo se se pensar um pouco. Cada país tem claramente uma dotação finita de petróleo dada pela natureza. Assim, quando o primeiro foi extraído, há consequentemente um a menos deixado para o futuro.
Aquilo que é deixado para o futuro consiste de dois elementos:
primeiro, quanto permanece em campos petrolíferos conhecidos, denominado Reservas Remanescentes (Remaining Reserves);
e segundo, quanto ainda há para ser descoberto no futuro (denominado Ainda por Descobrir, Yet-to-Find ).
Quanto é o Ainda por Descobrir pode ser razoavelmente estimado através da extrapolação da tendência de descobertas do passado.
A Taxa de Esgotamento é igual à quantidade anual actualmente a ser extraída dividida pelo total do Ainda por Produzir (Yet-to-Produce).
A Noruega é um país que relata estimativas de reservas excepcionalmente exactas. O total produzido até à data é de 18,5 mil milhões de barris (Gb), e 11,3 Gb permanecem em campos conhecidos, com cerca de 2 deixados por descobrir, o que dá um total arredondado de 32 Gb. Segue-se que 13,5 Gb restam por produzir. Em 2004, foram extraído 1,07 Gb, o que dá uma Taxa de Esgotamento de 7,9 por cento (1,07/13,5).
Deve ser enfatizado que as actuais estimativas de Reservas que estão no domínio público são grosseiramente inconfiáveis, e uma das finalidades do Protocolo é assegurar melhor informação. A Taxa de Esgotamento estimada para cada país, e finalmente para o Mundo como um todo, é sujeita a revisão quando se torna disponível melhor informação, mas a resultante correcção da Taxa de Esgotamento não será grande, provocando provavelmente uma variação de menos de um porcento. O Protocolo de Esgotamento exigiria aos importadores que reduzissem as suas importações de acordo com a Taxa Mundial de Esgotamento (que é de 2,5 porcento) a cada ano a fim de por a procura em equilíbrio com a oferta mundial. Tal como declarado antes, os exportadores reduziriam a sua produção de acordo com a sua Taxa de Esgotamento nacional. Assim, a Noruega reduziria a sua produção em 7,9 porcento a cada ano (a produção daquele país já está a declinar a uma taxa ainda mais elevada). A imposição sobre os países produtores não representa um grande fardo, uma vez que de qualquer forma poucos agora aumentam a sua taxa de produção, e muitos estão a experimentar produção declinante por razões puramente geológicas, como é o caso da Noruega e dos EUA. Concordar em produzir menos petróleo não inibiria a exploração porque novas descobertas reduziriam a Taxa de Esgotamento nacional, e isso permitiria uma taxa de exportação mais elevada do que seria o caso antes das mesmas. O principal impulso do Protocolo seria no sentido de exigir aos importadores que cortassem importações, mas a inclusão dos produtores nas disposições estimularia maior cooperação entre as duas facções. Qualquer produção nativa num país que fosse um importador líquido provavelmente não proporcionaria àquele país uma vantagem injusta, pois a produção dentro da maior parte dos países importadores já está a declinar a uma taxa mais alta do que a Taxa de Esgotamento Mundial. Como os importadores tratariam internamente da restrição de importação seria da sua própria competência (embora estratégias tanto para obter ofertas de combustíveis alternativos e para reduzir a procura por petróleo sem dúvida fossem necessárias).» in "Como evitar guerras petrolíferas, terrorismo e colapso económico" de Richard Heinberg
Ler mais...

quinta-feira, agosto 03, 2006

Energia Nuclear: uma análise multidisciplinar.

Ler mais...

"A Economia do Hidrogénio": uma miragem!

Existe uma tendência popular para desvalorizar as consequências do esgotamento das fontes de energia fósseis, como o petróleo ou o gás natural, baseada na crença que uma qualquer solução tecnológica virá inexoravelmente em nosso auxílio.
O hidrogénio é uma das "soluções" mais citadas. O problema é que o hidrogénio não é uma fonte de energia, mas apenas um "transportador" ("carrier") ou armazenador de energia. Isto porque o hidrogénio, apesar de ser um elemento muito abundante no universo, não existe em estado puro na Terra. Tem que ser extraído dos hidrocarbonetos como o gás natural ou da água (ler "O mito da economia do hidrogénio"), por um processo chamado electrólise, que requer o consumo de electricidade. Este processo implica grandes perdas de eficiência, como o demonstra o estudo "The Future of the Hydrogen Economy: Bright or Bleak?" . Embora o hidrogénio e as "fuel cells" possam ter aplicações pontuais interessantes, não parece que possam vir a constituir uma alternativa séria às fontes de energia fóssil.
Ler mais...

segunda-feira, julho 24, 2006

Finança Ética, exemplo da Noruega

O fundo de pensões do Governo Norueguês, um dos maiores do mundo fruto do rendimento do petróleo, decidiu penalizar as acções de companhias com práticas que violam direitos básicos dos trabalhadores, como a Wall-Mart, direitos humanos em geral, causam danos graves ao ambiente ou estão envolvidas na produção de armas nucleares ou minas terrestres.
A carteira do fundo está a ser avaliada de modo a desinvestir em empresas que não cumprem critérios éticos fundamentais. Um exemplo a seguir!
A notícia está aqui.
Para saber mais sobre finança ética, eis mais dois exemplos: o Banco "Banca Etica" , de Itália, e o "Triodos Bank" do Reino Unido.
Ler mais...

domingo, julho 23, 2006

A Globalização Económica será desejável? É melhor pensar duas vezes!

Numa conferência para o Pentágono intitulada "A crise energética chegou", o fundador do Banco de Investimentos Simmons & Company , especializado na indústria petrolífera, sugere que a globalização económica tem que ser revertida para fazer face ao desafio do esgotamento das energias fósseis. Uma agricultura mais próxima, ou dentro, das cidades, uma redução das deslocações diárias casa-trabalho, uma actividade produtiva em geral mais próxima do consumidor, para evitar o consumo excessivo de energia em transportes, são algumas das recomendações para enfrentar o agravamento da crise energética que se vislumbra no horizonte. Para uma análise desta posição ler este artigo .
Ler mais...

sábado, julho 22, 2006

AMBIENTE VS ECONOMIA

Nos últimos tempos tem aumentado o coro de protestos contra o ambiente como factor de bloqueio do desenvolvimento económico. O abandono do investimento na refinaria do Patrick de Barros por causa das emissões de CO2 levou o responsável da Agência Portuguesa para o Investimento , Basílio Horta, a reiniciar a polémica contra o Ambiente e, em particular, contra as quotas impostas a Portugal no quadro da negociação na União Europeia para o cumprimento do Protocolo de Quioto. Outra manifestação desta onda contra o Ambiente, mais prosaica, mas reveladora da falta de cultura de muitos dos nossos dirigentes, foi o apelo à pedrada contra os Inspectores do Ministério do Ambiente pelo insigne Presidente da Associação Nacional de Municípios.
Mas, quando falamos de Ambiente, estamos de facto a falar de quê? O Ambiente está inextrincavelmente ligado à Economia, pela simples razão de que o Ambiente é, no fundo, o nosso suporte de vida. E, sem vida, não há economia!
De facto, as Alterações Climáticas levantam problemas muito sérios à nossa, e a todas, as economias. Mas parece haver um equívoco quanto à origem do problema, como neste artigo de opinião de um ex-Secretário de Estado da Economia no Jornal de Negócios, que até sugere o fim de Quioto!
A verdade é que a Economia já está a sofrer (ver post "Alterações Climáticas e Seguradoras" de 13 de Julho) as consequências das Alterações Climáticas.
Felizmente, parece haver quem tenha bom senso, também nos meios empresariais, como é o caso deste artigo de Nuno Ribeiro da Silva, gestor e ex-Secretário de Estado da Energia, igualmente no Jornal de Negócios.
Mas, este desafio do Ambiente à Economia pode ser igualmente fonte de oportunidades, como sugere o relatório : A Will to Compete: a Competitive, Clever and Clean Europe.
Como diz a investigadora Constança Peneda, do INETI, num artigo de opinião no Diário Económico, algo tem de mudar na relação entre Economia e Ambiente em Portugal.
Ler mais...

segunda-feira, julho 17, 2006

NOVO AEROPORTO: MAIS UM PROJECTO DESASTROSO?

A projectada construção de um novo aeroporto de Lisboa na OTA é justificada, sobretudo, pela incapacidade da Portela de dar resposta ao crescente tráfego aéreo. O pressuposto de crescimento contínuo de tudo o que é variável económica funda-se num vício de análise que nunca põe em causa o modelo subjacente. Ora, assume cada vez mais importância uma questão que coloca sérias reservas a estas projecções exponenciais de crescimento de tráfego aéreo: o esgotamento progressivo do petróleo. A "newsletter" nº 67 de Julho de 2006 da ASPO Association for the Study of Peak Oil and Gas ou Associação para o Estudo do Pico do Petróleo e do Gás refere um artigo da Revista da Indústria Aeronáutica Internacional Airways intitulado "Peak Oil – The Collapse of Commercial Aviation" de Alex Kuhlman. O relatório "The Oil Crisis and its Impact on the Air Cargo Industry" do Institute for the Analysis of Global Security é igualmente revelador das dificuldades que aí vêm.

Este artigo e este outro parecem colocar bem o problema. A aviação comercial não poderá, portanto, crescer indefinidamente num contexto de esgotamento do petróleo, matéria-prima do querosene, daí que a construção de um grande novo aeroporto tenha que ser muito bem ponderada.


Ler mais...

quinta-feira, julho 13, 2006

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E SEGURADORAS


As consequências económicas das Alterações Climáticas já estão a fazer-se sentir e vão agravar-se. As Companhias Seguradoras são as mais directamente afectadas e são elas que transmitem a toda a economia os custos acrescidos resultantes de uma maior frequência de cheias, incêndios florestais, furacões, etc. (Ler noticia ao lado do Diário Económico). A empresa líder mundial em gestão de risco, Marsh, no Relatório Climate Change: Business Risks and Solutions aponta para esta realidade.
Ler mais...

DISTRIBUIÇÃO DAS RESERVAS DE PETRÓLEO


The world had 1.2 trillion barrels of proven oil reserves at the end of 2005, according to BP. If overall production continues at last year's rate, known oil will last for 41 years. But it will run out more slowly in some countries than in others. At today's extraction rate, Saudi Arabia's reserves, which account for more than a fifth of the world total, will last for 66 years.
Segundo esta estimativa publicada na revista "The Economist", às taxas de produção de 2005, as reservas de petróleo darão para mais 41 anos. Pode parecer que ainda são muitos anos, mas não são! Ainda por cima, em vastas regiões produtoras o petróleo esgotar-se-á muito antes, visto estar concentrado sobretudo no Médio Oriente, onde as tensões políticas e as amizades pelo Ocidente são o que se conhece. De modo que seria conveniente começar a fazer algo o mais cedo possível para reduzir a dependência das nossas sociedades em relação a esta fonte de energia. Antes que seja tarde e o colapso seja a única saída.
Ler mais...

PROTOCOLO SOBRE O ESGOTAMENTO DO PETRÓLEO; OIL DEPLETION PROTOCOL



Este protocolo propõe uma gestão racional e equilibrada da produção e consumo de petróleo, fomentando a cooperação e a transparência:

Considerando que a passagem da história tem registado um ritmo de mudança crescente, de modo que a procura por energia tem aumentado rapidamente em paralelo com a população mundial ao longo dos últimos 200 anos posteriores à Revolução Industrial;
Considerando que a oferta de energia exigida pela população mundial tem vindo principalmente do carvão e do petróleo, tendo sido formados quase sempre no passado geológico, e que tais recursos estão inevitavelmente sujeitos a esgotamento;
Considerando que o petróleo proporciona 90 por cento do combustível para os transportes, é essencial ao comércio e desempenha um papel crítico na agricultura, necessária para alimentar a expansão populacional;
Considerando que o petróleo está desigualmente distribuído sobre o Planeta por razões geológicas bem entendidas, com grande parte dele estando concentrado em cinco países junto ao Golfo Pérsico;
Considerando que todas as maiores províncias produtivas do Mundo já foram identificadas graças à tecnologia avançada e ao conhecimento geológico cada vez melhor, sendo agora evidente que as descobertas alcançaram um pico na década de 1960, apesar dos progressos tecnológicos e de uma pesquisa diligente;
Considerando que o pico passado da descoberta inevitavelmente conduz a um correspondente pico da produção durante a primeira década do século XXI, assumindo que não haja um declínio radical da procura; Considerando que o início do declínio deste recurso crítico afecta todos os aspectos da vida moderna, o que tem graves implicações políticas e geopolíticas;
Considerando que é adequado planear uma transição ordenada para o novo ambiente mundial de oferta de energia reduzida, tomando disposições para evitar o desperdício de energia, estimular a entrada de energias substitutas e estender o tempo de vida do petróleo remanescente;
Considerando que é desejável atender aos desafios que assomam no horizonte de uma maneira cooperativa e equitativa, assim como os relacionados com as preocupações da mudança climática, da estabilidade económica e financeira e das ameaças de conflitos para acesso a recursos críticos.
É PROPOSTO AGORA QUE
1- Seja convocada uma convenção de nações para considerar a questão tendo em vista concertar um Acordo com os seguintes objectivos:
a) evitar a especulação (profiteering) com a escassez, de modo a que os preços do petróleo possam permanecer num relacionamento razoável com o custo de produção;
b) permitir aos países pobres manterem as suas importações;
c) evitar desestabilizar fluxos financeiros decorrentes de preços excessivos de petróleo;
d) encorajar os consumidores a evitarem o desperdício;
e) estimular o desenvolvimento de energias alternativas.
2- Tal Acordo terá disposições com os seguintes contornos:
a) Nenhum país produzirá petróleo acima da sua actual Taxa de Esgotamento, sendo a mesma definida como produção anual como uma porcentagem da quantidade estimada deixada para produzir;
b) Cada país importador reduzirá as suas importações para atingir a actual Taxa Mundial de Esgotamento, deduzindo qualquer produção interna.
3- Disposições pormenorizadas cobrirão a definição das várias categorias de petróleo, isenções e qualificações, e os procedimentos científicos para a estimação da Taxa de Esgotamento.
4- Os países signatários cooperarão proporcionando informação sobre as suas reservas, permitindo auditoria técnica plena, a fim de que a Taxa de Esgotamento possa ser determinada com precisão.
5- Os países signatários terão o direito de recorrer quanto à avaliação da sua Taxa de Esgotamento no caso de alteração de circunstâncias.
VERSÃO EM INGLÊS
The Oil Depletion Protocol (As drafted by Dr. Colin J. Campbell)*


WHEREAS the passage of history has recorded an increasing pace of change, such that the demand for energy has grown rapidly in parallel with the world population over the past two hundred years since the Industrial Revolution;

WHEREAS the energy supply required by the population has come mainly from coal and petroleum, such resources having been formed but rarely in the geological past and being inevitably subject to depletion;

WHEREAS oil provides ninety percent of transport fuel, is essential to trade, and plays a critical role in the agriculture needed to feed the expanding population;

WHEREAS oil is unevenly distributed on the Planet for well-understood geological reasons, with much being concentrated in five countries bordering the Persian Gulf;

WHEREAS all the major productive provinces of the World have been identified with the help of advanced technology and growing geological knowledge, it being now evident that discovery reached a peak in the 1960s, despite technological progress and a diligent search;

WHEREAS the past peak of discovery inevitably leads to a corresponding peak in production during the first decade of the 21st Century, assuming no radical decline in demand;

WHEREAS the onset of the decline of this critical resource affects all aspects of modern life, such having grave political and geopolitical implications;

WHEREAS it is expedient to plan an orderly transition to the new World environment of reduced energy supply, making early provisions to avoid the waste of energy, stimulate the entry of substitute energies, and extend the life of the remaining oil;

WHEREAS it is desirable to meet the challenges so arising in a co-operative and equitable manner, such to address related climate change concerns, economic and financial stability, and the threats of conflicts for access to critical resources.

NOW IT IS PROPOSED THAT

A convention of nations shall be called to consider the issue with a view to agreeing an Accord with the following objectives:

• to avoid profiteering from shortage, such that oil prices may remain in reasonable relationship with production cost;

• to allow poor countries to afford their imports;

• to avoid destabilizing financial flows arising from excessive oil prices;

• to encourage consumers to avoid waste;

• to stimulate the development of alternative energies.

Such an Accord shall have the following outline provisions:

• The world and every nation shall aim to reduce oil consumption by at least the world depletion rate.

• No country shall produce oil at above its present depletion rate.

• No country shall import at above the world depletion rate.

• The depletion rate is defined as annual production as a percent of what is left (reserves plus yet-to-find).

• The preceding provisions refer to regular conventional oil—which category excludes heavy oils with cut-off of 17.5 API, deepwater oil with a cut-off of 500 meters, polar oil, gas liquids from gas fields, tar sands, oil shale, oil from coal, biofuels such as ethanol, etc.

Detailed provisions shall cover the definition of the several categories of oil, exemptions and qualifications, and the scientific procedures for the estimation of Depletion Rate.

The signatory countries shall cooperate in providing information on their reserves, allowing full technical audit, such that the Depletion Rate may be accurately determined.

The signatory countries shall have the right to appeal their assessed Depletion Rate in the event of changed circumstances.
Ler mais...

sábado, abril 22, 2006

ENERGIA NUCLEAR , OPÇÃO COM FUTURO?


O debate sobre a energia nuclear ganhou nova actualidade um pouco por todo o mundo, incluindo Portugal. O aumento do preço do petróleo e os receios quanto à segurança do abastecimento das fontes de energia convencionais (petróleo e gás natural), por um lado, e o problema das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) associados às Alterações Climáticas, por outro, estão na origem deste ressurgimento.

Há um ponto prévio a ter em conta neste debate. Os recursos energéticos não são ilimitados e a sua utilização tem sempre alguma contrapartida. O recurso excessivo aos combustíveis fósseis está a conduzir às alterações climáticas, a energia nuclear produz resíduos que subsistem por milhares de anos, a construção de grandes barragens hidroeléctricas ou os biocombustíveis competem por terra arável com a produção alimentar, etc.
De facto, se não tomarmos consciência de que é necessário reduzir a intensidade energética e o consumo de recursos nas sociedades modernas, então todas as opções energéticas, incluindo a nuclear, serão porventura insuficientes para satisfazer a procura.

Neste contexto, os defensores da opção nuclear apresentam-na como uma alternativa segura, limpa e económica para responder às necessidades crescentes de energia nas próximas décadas.

Num estudo publicado em 2003 pelo MIT (1) intitulado “O Futuro da Energia Nuclear”, embora se defenda que a energia nuclear poderá contribuir para minorar o problema das emissões de GEE, também se diz que “Não encontrámos e, com base no conhecimento actual, não cremos ser realista esperar que venham a existir novas tecnologias de reactores e de ciclos de combustível que simultaneamente ultrapassem os problemas relativos ao custo, segurança, resíduos e proliferação”. Por exemplo, a opção tecnológica mais económica implica maiores riscos para a gestão dos resíduos a longo prazo.


A proliferação de resíduos acarreta um risco adicional, o do terrorismo internacional. Um relatório parlamentar britânico qualifica o risco de ataques terroristas “impressionante e alarmante”
Quanto à segurança, não parece haver dúvidas de que pouco evoluíu.
Do ponto de vista económico, tanto o estudo do MIT como o estudo da Shell sobre os cenários energéticos para 2050 (2) afirmam claramente que a energia nuclear não é competitiva com as fontes tradicionais num mercado liberalizado, ou seja, sem apoio estatal. É necessário ter em conta não apenas o investimento inicial, mas os custos de manutenção, os custos com o transporte, tratamento e armazenamento de resíduos, e ainda os custos com o desmantelamento ao fim de 40 a 60 anos. A energia nuclear seria competitiva apenas com uma internalização dos custos das emissões de CO2 que rondasse entre os 100-200 US$/tonelada (os valores actuais nas bolsas de transacção de carbono europeias rondam os 30 US$/tonelada). Esta circunstância, no entanto, também é válida para as fontes renováveis de geração de energia eléctrica, em que a eólica, por exemplo, já é competitiva com o gás natural, mesmo sem considerar a emissão de CO2.
O MIT afirma que melhorias nos custos da energia nuclear, embora plausíveis, não foram ainda provadas.
Uma qualidade atribuída ao nuclear, por oposição a algumas renováveis (a eólica, por exemplo) é a sua fiabilidade enquanto gerador de electricidade. O vento é instável e a energia eólica não é armazenável, ao passo que as centrais nucleares garantiriam um fluxo regular e fiável. No entanto, as necessidades de manutenção e a escassez de água (necessária para os reactores) em muitas regiões podem comprometer igualmente essa fiabilidade, como o provam as sete centrais permanentemente encerradas ao longo dos últimos dois anos em todo o mundo.
Finalmente, a questão da energia limpa e dos GEE. Como já vimos, a energia nuclear não é uma energia limpa. Os resíduos radioactivos representam um perigo permanente para a saúde pública ao longo de milhares de anos. Um destacado cientista britânico, baseado no relatório “Avoiding Dangerous Climate Change” (3), considera que uma concentração de 550 ppmv (4) (partes por milhão em volume) de CO2, que serve de base , por exemplo, para os cenários da Shell, acarretaria consequências catastróficas para os ecossistemas. A energia nuclear poderia contribuir para alguma redução na emissão de CO2, mas essa redução teria um impacto limitado (700 novos grandes reactores reduziriam em apenas 1/7 os GEE para estabilizar as emissões em 500 ppmv (5)) e a partir de certo limiar (que se prende com a mineração do urânio) essa vantagem poderia ser anulada por comparação com fontes de produção convencionais, como o gás natural(6). Por outro lado, estimativas oficiais prevêem um acréscimo de apenas 5% na produção de electricidade via nuclear até 2020 a nível mundial para um acréscimo de consumo que poderá ir até 75%. Até lá, pelo menos, outras respostas teriam que ser encontradas para o problema dos GEE.
É preciso sobretudo reduzir as emissões dos transportes e aí a energia nuclear nada adianta.
A conservação e eficiência energética têm que ser a principal aposta. A eficiência pode duplicar, simplesmente pela aplicação de tecnologias já existentes. Outros estudos sugerem uma melhoria por um factor de 4 ou mais. Sistemas de produção de energia eléctrica descentralizada, a antítese do nuclear, como a microgeração de energia (7) utilizando a eólica e o solar, entre outras, têm grande potencial e constituem já parte da estratégia energética, por exemlo, do Reino Unido. Os governos têm aqui um papel importante no sentido de estimular mudanças, através da I&D ou da fiscalidade.
Enfim, existem muitas opções bem mais sustentáveis que o nuclear. Por isso é importante promover o debate público e uma certa pedagogia quanto ao uso da energia.


  • 1 Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA) “The Future of Nuclear Power” 2003

  • 2 Energy Needs, Choices and Possibilities, 2001

  • 3 Avoiding Dangerous Climate Change

  • 4 actualmente rondam os 379 ppmv, com as consequências que já se notam

  • 5 Worldwatch Institute

  • 6 Estudo sobre emissões de CO2 ligadas à produção de energia nuclear

  • 7 Estratégia para a Microgeração de Energia - Reino Unido

  • Artigo publicado originalmente no Jornal Esquerda nº 10, pág. 12 PDF
    Ler mais...

    quarta-feira, março 01, 2006

    O Dólar: alicerce do Império Americano


    Todos os Impérios desenvolveram formas, mais ou menos sofisticadas, de tributarem as regiões por si dominadas, ou sob a sua área de influência. Do puro saque à utilização de mão-de-obra escrava, passando por regras de comércio desiguais impostas pela força até à aplicação de sistemas fiscais predadores. [Ver artigo]
    O Império Americano actual é de uma "espécie" bastante sofisticada, na medida em que, em geral, não depende de um domínio territorial ou económico directo. Funda o seu poder sobre o papel atribuído ao dólar nos Acordos de Bretton Woods de 1944, como base do sistema monetário internacional. Sob a égide deste acordo, o dólar serviu de âncora ao sistema de pagamentos internacionais, pela via da sua convertibilidade numa dada quantidade de ouro. Assente na hegemonia económica e político-miltar adquirida com o fim da Segunda Grande Guerra, o dólar tornou-se moeda de aceitação universal e seguiram-se os "Trinta Gloriosos Anos", caracterizados por forte crescimento económico e pelo "Estado do Bem-Estar" ("Welfare State").
    Em 1971, o Presidente Nixon acabou com a convertibilidade do dólar em ouro. A hegemonia do dólar, no entanto, subsistiu. Só que agora, sem a base material conferida pelo ouro. A gestão da política monetária dos EUA permitiu-lhe lançar na economia mundial uma enorme quantidade de dólares sem qualquer relação com a sua capacidade produtiva, o que se traduziu no enorme défice externo. Na prática, os EUA imprimiam papel (os dólares) e trocavam-nos por bens produzidos no resto do mundo. A aceitação da moeda americana como meio de pagamento universal, tornava-a uma reserva de valor. Era procurada e conservada. Isto implicava uma circulação cada vez maior de dólares fora dos EUA, sem nunca voltarem a este país de modo a reclamar a sua reconversão em algo de real, de substantivo. Nisto, em parte, se baseia o tributo. Os EUA compravam a crédito, a uma taxa de juro nula, décadas a fio, sem nunca terem necessidade de fazer grandes ajustamentos.
    Quando a convertibilidade com o ouro acabou, os EUA arranjaram outra forma de manter a fidelidade dos seus parceiros comerciais em relação ao dólar. Uma série de mercadorias vitais, e sobretudo o petróleo (aceitação do dólar como única moeda de pagamento pela Arábia Saudita e, logo, pela OPEP), passaram a ser denominadas e pagas em dólares por quem quer que as quisesse adquirir no mercado internacional. Sobretudo com os choques petrolíferos, isto consolidou a posição do dólar como moeda dominante.
    Com a criação do euro, este predomínio do dólar começou a ser ameaçado, e o espectro da inflação começou a pairar no horizonte da economia americana. Se, de repente, o euro substituisse o dólar, ainda que parcialmente, como reserva de valor à escala mundial, isso poderia implicar uma "enxurrada" de dólares no mercado cambial e sua consequente desvalorização, com a consequente perda de poder aquisitivo pela economia norte-americana. Era necessário, portanto, evitar a todo o custo que isso sucedesse. E o petróleo é uma peça fundamental. Não o petróleo em si, mas a moeda em que é comercializado. Quem tivesse a veleidade de vender o seu petróleo (sobretudo se se tratasse de um importante exportador) em troca de outra divisa que não o dólar, teria que ser impedido. Foi o que aconteceu ao Iraque!
    A indisposição dos EUA em relação à Venezuela e ao Irão tem, em boa medida, uma origem semelhante. Embora a questão nuclear tenha o seu peso na disputa do Irão com os EUA, o Irão tem projectada uma Bolsa de Petróleo [Ver discussão sobre importância deste assunto na disputa entre EUA e Irão neste artigo que detalha os mecanismos económicos deste relação , neste contra argumento fraco e neste mais sólido] que pretende concorrer com as de Nova Iorque e de Londres. O Irão tem ameaçado negociar em moedas que não apenas o dólar, o que , tratando-se do 4º maior produtor mundial de petróleo e 2º em reservas de gás natural, seria uma ameaça bem maior do que a do Iraque.
    A hegemonia económica dos EUA está assim ameaçada, e existe o risco de mais reacções irracionais, como se revelou a intervenção no Iraque, por parte dos EUA para manter a todo o custo o seu domínio económico predador e dissipador de recursos. No entanto, a prazo, isto obrigará os EUA a um ajustamento doloroso, que na realidade já está a acontecer. Se no fim deste processo, os EUA forem obrigados a uma maior temperança na utilização dos recursos energéticos, talvez isto possa compensar o facto de, por exemplo, não teram aderido ao Protocolo de Quioto.
    Ler mais...

    sábado, fevereiro 25, 2006

    Poupança de Energia: sabia que....?

    Numa altura em que se fala muito de poupança de energia, seja por causa do esgotamento das fontes de energia fóssil (petróleo, gás natural, etc.), seja por causa do cumprimento das metas do Protocolo de Quioto e do problema associado das Alterações Climáticas. No momento, também, em que se volta a discutir a opção do nuclear, por pressão de interesses económicos muito particulares, seria útil antes de mais tomarmos consciência da dimensão do desperdício de energia nas sociedades industrializadas.

    Sabia que os aparelhos que são deixados em "standby" nas nossas casas, ou seja, que não são completamente desligados, tais como televisores, computadores, carregadores de telemóveis ligados à tomada, HI-FI´s, leitores de DVD´s, etc, são responsáveis por cerca de 10% do consumo residencial de energia eléctrica?
    Segundo este estudo conjunto da Agência Internacional de Energia (IEA) e da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), organizações das quais Portugal faz parte, o consumo doméstico de energia eléctrica por aparelhos em "standby" é responsável, nos países membros da IEA, por uma média de 10% do total da procura residencial de energia eléctrica.
    Ler mais...

    Os custos da Guerra do Iraque

    Os custos económicos (despesas dos EUA, sem contar a destruição provocada à economia iraquiana) desta guerra imoral e selvagem, para além do sofrimento humano, são gigantescos, como se pode ver no seguinte "link":
    OS CUSTOS DA GUERRA
    A comparação com os recursos necessários para fins sociais ou de ajuda internacional aumenta ainda mais o escândalo que é esta guerra.
    Estes custos são em primeira análise suportados pelos cidadãos norte-americanos, mas dada a hegemonia económica dos EUA no mundo, mais cedo ou mais tarde, todos nós acabaremos por pagar a factura, seja pela via da inflação, seja pela via de taxas de juro mais altas, ou de ambas! Ler mais...

    "A People´s History of the United States"


    Um extraordinário livro sobre a história dos EUA, em boa parte contada na 1ª pessoa pelos sujeitos da mesma. Uma visão diferente da América!

    O autor é Howard Zinn.

    www.peopleshistoryoftheus.com Ler mais...