segunda-feira, novembro 12, 2007

Entrevista do Financial Times a Fatih Birol (economista-chefe da Agência Internacional de Energia)


Finalmente, a AIE vem admitir dificuldades (WEO 2007) com o abastecimento do petróleo face à crescente procura. Vale a pena ler as principais passagens da entrevista e comentários de "Jerome a Paris" aqui.

Uma transcrição da entrevista pode ser lida na página do próprio FT, bastando para isso registar-se gratuitamente (interview with the FT).
Fatih Birol alerta que são necessárias mudanças drásticas desde já para reduzir o consumo de energia, quer por razões de segurança energética, quer por causa das alterações climáticas. Vem admitir que o pico do petróleo fora da OPEP já passou e incertezas quanto ao nível das reservas da OPEP, coisa que Matthew Simmons vinha há muito a dizer.
Vindo de quem vem, uma organização ligada aos países da OCDE, tradicionalmente conservadora nas suas avaliações e que ainda há pouco tempo desvalorizava os alertas, dá que pensar e deveria fazer reflectir o nosso governo. Mas ainda mais significativas são as afirmações dos CEO's da Conoco Phillips e da BP sugerindo que as previsões de procura da AIE de 116 mb/d para 2030 são absurdas e que não acreditam que alguma vez a produção ultrapasse os 100 mb/d.
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segunda-feira, novembro 05, 2007

China: o grande passo para trás


"O GRANDE PASSO PARA TRÁS" (tradução parcial de artigo publicado na revista "Foreign Affairs")

Os problemas ambientais da China estão a aumentar e o país está a tornar-se rapidamente um dos maiores poluidores do mundo. A situação continua a deteriorar-se porque, mesmo quando Pequim define objectivos ambiciosos para defesa do ambiente, os responsáveis locais geralmente ignoram-nos, preferindo concentrar-se em promover o crescimento económico.
Uma real melhoria do ambiente na China irá exigir reformas políticas e económicas revolucionárias que partam de baixo para cima ("bottom-up").

A poluição da água e a sua escassez estão a pesar sobre a economia, o aumento dos níveis da poluição do ar está a pôr em perigo a saúde de milhões de chineses, e uma boa parte do território está a transformar-se rapidamente num deserto. A China tornou-se líder mundial na poluição do ar e da água e na degradação do solo, e um dos principais responsáveis por alguns dos mais incómodos problemas ambientais globais tais como o comércio ilegal de madeira, a poluição marítima e as alterações climáticas. À medida que os grandes problemas de poluição da China aumentam, assim, também, os riscos para a sua economia, saúde pública, estabilidade social e reputação internacional. Como avisou, em 2005, Pan Yue , vice ministro da Agência de Protecção Ambiental Estatal da China , "* O milagre [económico] acabará em breve porque o ambiente não consegue acompanhar o ritmo"*

Com o aproximar dos Jogos Olímpicos de 2008, os líderes chineses aumentaram a sua retórica, estabelecendo objectivos ambientais ambiciosos, anunciando níveis mais elevados de investimento ambiental e exortando os líderes empresariais e funcionários locais a limparem as suas áreas. O resto do mundo parece aceitar que a China está a trilhar um novo curso : quando a China se declara aberta aos negócios amigos do ambiente, funcionários governamentais nos EUA, UE e Japão interrogam-se não sobre se, mas quanto investir.
Infelizmente, muito deste entusiasmo deriva de uma crença generalizada mas errónea de que tudo o que Pequim ordena se cumpre. O governo central define a agenda nacional, mas não controla todos os aspectos da sua implementação. Na realidade, os responsáveis locais raramente dão ouvidos às directivas ambientais de Pequim, preferindo concentrar as suas energias e recursos na promoção do crescimento económico. A verdade é que para mudar o panorama ambiental na China será necessário algo muito mais difícil do que fixar metas e gastar dinheiro. Exigirá reformas politico-económicas revolucionárias da base para o topo.

Por um lado, os líderes chineses precisam de tornar mais fácil para os responsáveis locais e para os industriais fazer o mais correcto no que diz respeito ao ambiente, dando-lhes os incentivos certos. Ao mesmo tempo, precisam de suavizar as restrições políticas que impuseram sobre os tribunais, as organizações não governamentais e a comunicação social, de forma a permitir a estes grupos tornarem-se executores independentes da protecção ambiental.

Pecados de emissão

O rápido desenvolvimento da China, frequentemente descrito como um milagre económico, tornou-se um desastre ambiental. O crescimento recorde necessariamente requer um consumo gigantesco de recursos, mas na China o uso de energia tem sido particularmente "sujo" e ineficiente, com graves consequências para o ar, terra e água do país.

O carvão que tem alimentado o crescimento económico chinês, por exemplo, está também a sufocar o seu povo. O carvão providencia 70% das necessidades energéticas da China: o país consumiu cerca de 2,4 mil milhões de toneladas em 2006 – mais do que os EUA, Japão e o Reino Unido combinados. Em 2000, a China previu que duplicaria o consumo de carvão em 2020; agora, espera-se que venha a fazê-lo até ao fim deste ano. O consumo na China é gigantesco em parte porque é ineficiente: como um funcionário chinês relatou ao "Der Spiegel" em princípios de 2006, "para produzir bens no valor de $10,000 necessitamos de 7 vezes mais recursos que os usados pelo Japão, quase 6 vezes mais recursos utilizados pelos EUA e – uma fonte particular de embaraço – quase três vezes mais recursos do que a Índia"


Entretanto, esta dependência do carvão está a devastar o ambiente na China. O país alberga 16 das 20 cidades mais poluídas do mundo, e 4 das piores dentre elas estão na província rica em carvão de Shanxi, no nordeste da China. Tanto quanto 90% das emissões de dióxido de enxofre da China e 50% das suas emissões de partículas são o resultado da utilização do carvão. As partículas são responsáveis por problemas respiratórios entre a população, e a chuva ácida, causada pelas emissões de dióxido de enxofre, cai sobre um quarto do território e um terço das terras agrícolas, diminuindo a produção e degradando os edifícios.

Ainda assim, o uso do carvão pode, em breve, ser o menor dos problemas de qualidade do ar na China. A explosão dos transportes coloca um desafio crescente à qualidade do ar na China. As construtoras chinesas estão a desenvolver mais de 52.700 milhas de novas auto-estradas pelo país fora. Cerca de 14.000 novos carros chegam às estradas chinesas em cada dia. Em 2020, espera-se que a China venha a ter 130 milhões de automóveis, e em 2050 – ou talvez já em 2040 – que venha a ter mais automóveis que os EUA. Pequim já paga um alto preço por esta "explosão". Num inquérito de 2006, os chineses classificaram Pequim como a 15ª cidade da China com melhor qualidade de vida, caindo do 4ª lugar que ocupava em 2005, sendo esta queda da responsabilidade do aumento do tráfego e da poluição. Os níveis de partículas suspensas no ar são agora seis vezes superiores em Pequim do que Nova Iorque.

Os planos de urbanização em grande escala da China só agravarão estes problemas. Os líderes chineses planeiam transferir 400 milhões de pessoas – equivalente a bem mais que toda a população dos EUA – para novos centros urbanos entre 2000 e 2030. No processo, irão erguer metade de todos os edifícios que se espera venham a ser construídos em todo o mundo neste período. Esta é uma perspectiva problemática tendo em conta que os edifícios chineses não são energético-eficientes – na realidade, são cerca de duas vezes e meia menos que os da Alemanha. Além disso, os novos chineses urbanos, que usam aparelhos de ar condicionado, televisores, e frigoríficos, consomem cerca de três vezes e meia mais energia que os que vivem no campo. E, embora a China seja um dos maiores produtores mundiais de painéis solares, lâmpadas fluorescentes e janelas energético-eficientes, a maior parte é produzida para exportação. A não ser que uma fracção acrescida destes equipamentos economizadores de energia fique no país, o "boom" de construção resultará numa explosão do consumo de energia e da poluição.

O solo na China tem sofrido também os efeitos de um desenvolvimento sem limites e a negligência do ambiente. Séculos de desflorestação acompanhados de pastoreio intenso e sobrecultivo das terras aráveis, deixaram grande parte do norte e noroeste da China seriamente degradado. No último meio século, ainda por cima, as florestas e terras agrícolas tiveram que dar lugar à indústria e às cidades em expansão, resultando na diminuição dos rendimentos das colheitas, na perda de biodiversidade e em alterações climáticas locais. O Deserto de Gobi, que agora envolve grande parte do oeste e norte da China, está a expandir-se a cerca de 1900 milhas quadradas por ano; alguns relatórios afirmam que apesar dos esforços agressivos de reflorestação de Pequim, um quarto de todo o país é agora deserto. A Administração Florestal do Estado estima que a desertificação atinge 400 milhões de chineses, fazendo de milhões deles refugiados ambientais em busca de novos lares e empregos. Entretanto, grande parte do solo arável na China está contaminado, levantando a preocupação quanto à segurança dos alimentos. Crê-se que tanto quanto 10% dos terrenos agrícolas estão poluídos, e cada ano 12 milhões de toneladas de cereal estão contaminadas com metais pesados absorvidos pelo solo.

Riscos relacionados com a água

E depois há o problema relacionado com o acesso à agua potável. Apesar da China possuir os quartos maiores recursos de água doce do mundo (depois do Brasil, Rússia e Canadá), a enorme procura, sobreuso, ineficiências, poluição e distribuição desigual levaram a uma situação na qual dois terços das cerca de 660 cidades chinesas têm menos água da que necessitam e 110 sofrem de graves carências. Segundo Ma Jun, especialista em águas, várias cidades perto de Pequim e Tianjin, na região nordeste do país, poderão ficar sem água dentro de 5 a 7 anos.

A crescente procura é parte do problema, mas é-o também o enorme desperdício. [...].

A poluição está também a ameaçar as fontes de abastecimento de água da China. As águas subterrâneas, que fornecem 70% do total de água potável do país, estão sob a ameaça de uma variedade de fontes, desde a poluição das águas à superfície, locais de deposição de resíduos a pesticidas e fertilizantes. Segundo uma nota da agência noticiosa governamental Xinhua, os aquíferos de 90% das cidades chinesas estão poluídos. Mais de 75% da água dos rios que passa por áreas urbanas é considerada imprópria para beber ou pescar, e o governo chinês considera cerca de 30% da água que corre pelos rios do país desadequada para a agricultura e a indústria. Em consequência, quase 700 milhões de pessoas bebe água contaminada com resíduos humanos e animais. O Banco Mundial concluiu que a incapacidade em fornecer plenamente 2/3 da população rural com água canalizada é a causa principal da mortalidade infantil até aos 5 anos e é responsável por tanto quanto 11% dos casos de cancro gastrointestinal.

[...].
Os líderes chineses estão também crescentemente preocupados acerca de como as alterações climáticas poderão exacerbar a situação ambiental doméstica. Na Primavera de 2007, Pequim publicou o seu primeiro relatório nacional de avaliação sobre as alterações climáticas, prevendo uma quebra de 30% na precipitação em três das sete maiores regiões fluviais da China – em torno dos rios Huai, Liao e Hai – e uma quebra de 37% nas produções de trigo, arroz e milho, na segunda metade do século. [...] E tanto cientistas chineses como internacionais avisam agora que devido à subida do nível do mar, Xangai poderá ser submersa em 2050.

Danos Colaterais

Os problemas ambientais da China estão já a afectar o resto do mundo. O Japão e a Coreia do Sul sofrem há muito os efeitos das chuvas ácidas provocadas pelas centrais eléctricas a carvão, e das tempestades de poeira vindas de leste através do Deserto de Gobi na Primavera, espalhando uma poeira amarela tóxica pelas suas terras. [...]. A agência dos EUA para a protecção ambiental (EPA) estima que em alguns dias, 25% das partículas na atmosfera em Los Angeles são originárias da China. Os cientistas também rastrearam os crescentes níveis de mercúrio no solo dos EU até às centrais eléctricas a carvão e às fábricas de cimento na China. (Quando ingerido em quantidades significativas, o mercúrio pode provocar deficiências congénitas e problemas de desenvolvimento)[notícia relacionada: Baby Born with Birth Defects Every 30 Seconds] . Calcula-se que 25 a 40% de todas as emissões de mercúrio no mundo vêm da China.

O que a China despeja nas suas águas está também a poluir o resto do mundo. De acordo com a ONG WWF, a China é agora o maior poluidor do Oceano Pacífico. [...] A China liberta cerca de 2,8 mil milhões de toneladas de água contaminada para o Bo Hai (mar ao longo da costa norte da China) e o conteúdo em metais pesados nas lamas no seu leito é agora 2.000 vezes superior aos próprios níveis de segurança oficiais. A apanha de lagostim caiu 90% nos últimos 15 anos. Em 2006, nas províncias pesadamente industrializadas do sudeste, Guangdong (Cantão) e Fujian, quase 8,3 mil milhões de toneladas de esgoto sem tratamento foi lançado no oceano, um aumento de 60% face a 2001. Mais de 80% do Mar da China Oriental, um dos maiores bancos de pesca do mundo, está agora classificado como impróprio para a pesca, face a 53% em 2000.
Além disso, a China já está a atrair a atenção internacional pela sua rapidamente crescente contribuição para as alterações climáticas. De acordo com um relatório de 2007 da Agência Holandesa de Avaliação Ambiental, a China já ultrapassou os EUA como maior contribuidor mundial de dióxido de carbono, um dos principais gases com efeito de estufa, para a atmosfera. A não ser que a China repense a sua utilização das várias fontes de energia e adopte tecnologias de ponta eco-eficientes, alertou Fatih Birol, economista-chefe da Agência Internacional da Energia, em 25 anos a China emitirá o dobro de dióxido de carbono que todos os países da OCDE combinados.

Os parceiros económicos da China no mundo em desenvolvimento enfrentam um fardo adicional resultante das suas actividades económicas. As multinacionais chinesas, que exploram recursos naturais em África, América Latina, e Sudeste Asiático de forma a alimentar a continuada ascensão económica chinesa, estão a devastar os “habitats” destas regiões nesse processo. A fome chinesa por madeira explodiu na última década e meia, e particularmente desde 1998, quando inundações devastadoras levaram Pequim a impor restrições no abate doméstico de árvores. A importação de madeira pela China mais que triplicou entre 1993 e 2005. Segundo o WWF , a procura da China por madeira, papel e pasta de papel irá provavelmente aumentar cerca de 33% entre 2005 e 2010.
A China é já o maior importador do mundo de madeira abatida ilegalmente : uns estimados 50% das suas importações de madeira são reportadas ilegais. O abate ilegal é especialmente prejudicial para o ambiente porque atinge frequentemente florestas raras e antigas, faz perigar a biodiversidade e ignora práticas florestais sustentáveis. Em 2006, o governo do Cambodja, por exemplo, ignorou as suas próprias leis e atribuiu à companhia Wuzhishan LS Group uma concessão de 99 anos que era 20 vezes maior que o tamanho permitido pela lei cambodjana. As práticas da empresa, incluindo a dispersão de grandes quantidades de herbicida, desencadearam repetidos protestos por parte da população local. Segundo a ONG internacional Global Witness, as companhias chinesas destruiram grandes porções da floresta ao longo da fronteira Sino-Birmanesa e estão agora a deslocar-se em direcção ao interior das florestas da Birmânia em busca de madeira. Em muitos casos, a actividade de abate ilícito decorre com o apoio activo de funcionários locais corruptos. Funcionários dos governos centrais da Birmânia e da Indonésia, países onde os madeireiros da China são activos, protestaram contra tais práticas, mas as melhorias foram limitadas. Estas actividades, juntamente com as das companhias mineiras e de energia, levantam sérias preocupações ambientais para muitas populações locais do mundo em desenvolvimento.

Na perspectiva dos líderes chineses, contudo, os danos ao ambiente em si mesmos são um problema secundário. Reveste de maior preocupação para eles os seus efeitos indirectos: a ameaça que colocam à continuação do milagre económico chinês e à saúde pública, estabilidade social, e reputação internacional do país. Tomados em conjunto, estes desafios poderiam minar a autoridade do Partido Comunista.
Os líderes chineses estão peocupados acerca do impacto do ambiente sobre a economia[notícia realcionada: China Announces $14.5B Lake Cleanup] . Vários estudos conduzidos quer dentro, quer fora, da China, estimam que a degradação ambiental e a poluição custam à economia chinesa entre 8 a 12% do PIB por ano. Os meios de comunicação social da China publicam frequentemente os resultados de estudos sobre o impacto da poluição na agricultura, na produção industrial ou na saúde pública: poluição da água custa 35.8 mil milhõesde dólares (mm$) ano, poluição do ar custa 27.5 mm$ e mais e mais, com os desastres climáticos (26.5 mm$), as chuvas ácidas (13.3 mm$), a desertificação (6mm$), ou culturas danificadas pela poluição dos solos (2.5mm$). A cidade de Chongqing, nas margens do rio Yangtze, estima que lidar com os efeitos da poluição da água na sua agricultura e na saúde pública custa tanto quanto 4.3% do PIB anual da cidade. A província de Shanxi tem visto os seus recursos em carvão carburar o resto do país ao passo que paga o preço com as árvores enfezadas, o seu ar e água contaminados e o afundamento das suas terras (land subsidence). As autoridades locais estimam os custos da degradação ambiental e da poluição em 10.9% do PIB anual da província e pediram a Pequim compensação para a província pela sua “contribuição e sacrifício”.
O Ministério Chinês da Saúde Pública está também a soar o alarme com crescente urgência. Num inquérito a 30 cidades e 78 distritos, tornado público na Primavera, o ministério atribuía à crescente poluição do ar e da água o dramático aumento por todo o país da incidência do cancro: um aumento de 19% nas áreas urbanas e de 23% nas áreas rurais desde 2005. Um instituto de pesquisa afiliado da SEPA colocou o número total de mortes prematuras na China causadas por doenças respiratórias relacionadas com a poluição do ar em 400.000 por ano. Mas esta pode ser uma estimativa conservadora : segundo um projecto de pesquisa conjunto entre o Banco Mundial e o governo chinês publicado este ano, o número total de tais mortes é de 750.000 por ano. (Diz-se que Pequim não quis divulgar este último número por receio de que incitasse à inquietação social).
Menos bem documentado, mas potencialmente ainda mais devastador, é o impacto sobre a saúde da poluição da água na China. Hoje, 190 milhões de chineses estão doentes por beberem água contaminada. Ao longo de todos os grandes rios chineses, as aldeias relatam grandes aumentos das taxas de doenças ligadas à diarreia, cancro, tumores, leucemia, etc.
A inquietação social em relação a estes assuntos é crescente. Na Primavera de 2006, um alto funcionário do ambiente, Zhou Shengxian, anunciou que houve 51.000 protestos relacionados com a poluição em 2005, o que corresponde a cerca de 1.000 protestos por semana. As queixas dos cidadãos acerca do ambiente, expressas através de linhas de contacto oficiais ou por carta a funcionários locais, têm aumentado a uma taxa de 30% ao ano; Provavelmente ultrapassarão as 450.000 em 2007. Mas poucas terão uma resolução satisfatória, de maneira que pelo país fora um número crescente de pessoas protesta nas ruas. Durante vários meses em 2006, por exemplo, os residentes de 6 aldeias vizinhas na província de Gansu mantiveram protestos repetidamente contra as fundições de zinco e ferro que eles acreditavam estar a envenená-los. Metade dos 4.000 a 5.000 aldeões exibiam doenças relacionadas com o chumbo, variando da deficiência em vitamina D a problemas neurológicos.
Muitas das manifestações são relativamente pequenas e pacíficas. Mas quando falham, os manifestantes recorrem por vezes à violência. Após tentarem durante 2 anos obter compensação, através de petições ao nível local, provincial e mesmo junto de funcionários do governo central, pela suas colheitas estragadas e ar envenenado, na Primavera de 2005, 30.000 a 40.000 aldeãos da província de Zhejiang invadiram 13 fábricas químicas, partindo janelas, derrubando autocarros, atacando funcionários do governo e incendiando carros da polícia. O governo enviou 10.000 membros da “Polícia Armada do Povo” em resposta. Foi ordenado o encerramento das fábricas, e vários activistas ambientais que tentaram monitorizar o cumprimento da ordem foram mais tarde detidos. Em geral, os líderes chineses têm conseguido evitar - ainda que por vezes violentamente – que o descontentamento em relação aos problemas ambientais se propague para além das fronteiras provinciais ou se transforme em exigências de mais amplas reformas políticas. [...]

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