Uma pergunta interessante em torno do colapso de algumas sociedades é a seguinte: porque foram essas sociedades incapazes de antecipar o desastre? No exemplo da Ilha de Páscoa, outrora arborizada, que terão pensado os habitantes que abateram a última árvore? Algumas pessoas, incluindo historiadores, reagem com incredulidade ao facto de uma sociedade com alguma complexidade não conseguir antecipar e evitar o colapso.
Diamond sugere que as sociedades fracassaram pelas seguintes razões:
1. Foram incapazes de antecipar os problemas antes de eles ocorrerem;
2. Foram incapazes de os detectar quando ocorreram;
3. Quando foram capazes de detectar os problemas, não conseguiram sequer tentar resolvê-los;
4. Quando tentaram resolvê-los, fracassaram.
1. A incapacidade para antecipar os problemas pode dever-se simplesmente à sua novidade, ou seja, nunca terem sido experimentados no passado. No entanto, mesmo nos casos de experiência prévia, podem ter caído no esquecimento, sobretudo nas sociedades sem escrita. Mas mesmo nas sociedades modernas, a memória tende a ser curta.
Outra explicação pode ser o raciocínio por falsa analogia (“reasoning by false analogy”), ou seja, a tendência para fazer comparações com situações que são familiares, não compreendendo que se trata de um fenómeno novo. Quando os Vikings chegaram à Islândia, adoptaram as mesmas práticas agro-pecuárias que praticavam na Grã-Bretanha ou Noruega, não se dando conta da diferença no tipo de solos e, por isso, não antecipando problemas de erosão.
2. Há pelo menos três razões para explicar a incapacidade para detectar os problemas depois de ocorrerem:
· em alguns casos, a origem do problema é literalmente imperceptível. Por exemplo, os primeiros colonos da Austrália não tinham meios para avaliar a falta de nutrientes dos solos;
· uma outra razão é o distanciamento dos responsáveis pela gestão. Se estes não mantêm um contacto directo com a realidade objecto de gestão, terão maior dificuldade em detectar um problema;
· talvez o caso mais comum de incapacidade para detectar o surgimento do problema aconteça quando este assume a forma de uma evolução lenta numa certa direcção, mascarada por fortes flutuações. Um exemplo claro é o do aquecimento global.
Associado a este caso, Jared Diamond refere o que designa por “creeping normalcy”, que talvez se possa traduzir por “normalidade deslizante” : grandes mudanças através de movimentos imperceptíveis . As pessoas acabam por considerar normal algo que, com o tempo, se tornou radical ou substancialmente diferente, sem se terem apercebido disso. («[...] so one's baseline standard for what constitutes “normalcy” shifts gradually and imperceptibly.»).
Outro conceito associado a este é o de “amnésia da paisagem” (“lanscape amnesia”). Este último conceito poderá explicar, por exemplo, a atitude dos habitantes da Ilha de Páscoa ao abaterem a última árvore: há muito que a memória de uma ilha densamente arborizada e o significado da sua importância tinham desaparecido.
3. Incapacidade para tentar resolver os problemas, uma vez detectados.
Os conflitos de interesse entre pessoas ou grupos podem ser um grande obstáculo à resolução dos problemas ambientais. Podem existir fortes incentivos para que um indivíduo adopte um comportamento designado pelos economistas como “rational behavior”. Pode ser vantajoso, numa perspectiva individualista e imediata, ignorar um problema que pode vir a prejudicar o grupo e o próprio indivíduo. Um caso especial é o designado por “Tragédia dos Comuns”.
4. Por fim, no caso em que houve uma tentativa real de resolução do problema, pode ter sido tarde de mais ou ter sido levada a cabo sem a necessária determinação. Ou então, simplesmente o problema tinha atingido uma dimensão tal que não dispunham de soluções técnicas ou estas eram proibitivamente caras .
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