Na obra "Colapso – como as sociedades escolhem fracassar ou sobreviver" (2005), o biólogo norte-americano Jared Diamond analisa o colapso, total ou parcial, de sociedades passadas cuja origem está relacionada com a degradação ambiental. Desde a Ilha de Páscoa até aos Maias, dos Anasazi à colónia Viking na Gronelândia. Trata-se de uma análise original da História, realçando a importância da base natural sobre a qual assenta a civilização.
O colapso é definido como uma redução drástica da população humana ou do nível de complexidade das sociedades, ou de ambos, sobre um território considerável e por um período prolongado.
O autor enumera 8 categorias de problemas que, de forma mais ou menos acentuada, conduziram à degradação ambiental e, finalmente, ao colapso daquelas sociedades: desflorestação e destruição de habitats, problemas relacionados com os solos (erosão, salinização e perda de fertilidade), problemas de gestão de água, caça excessiva, pesca excessiva, efeitos da introdução de espécies alienígenas sobre espécies nativas, crescimento populacional, e o aumento do impacto "per-capita". A estes problemas ambientais, o autor inclui mais 4 que afectam o mundo actual: alterações climáticas de origem antropogénica, acumulação de químicos tóxicos, ruptura energética e utilização plena pelo Homem da capacidade fotossintética da Terra.
O colapso, no entanto, não se deveu apenas à degradação ambiental. Outros factores aceleraram ou retardaram a sua ocorrência. De modo que a sua análise é feita num quadro de cinco pontos em que, para além da degradação ambiental, se consideram a alteração climática, a existência de vizinhos hostis, a perda de parceiros comerciais e, finalmente, a resposta de cada sociedade perante os problemas ambientais.
Desta análise podem retirar-se lições importantes para o mundo actual. É esse o objectivo principal do livro. O mundo enfrenta hoje um risco sério de colapso. O estilo de vida das sociedades modernas do "Primeiro Mundo" e a sua emulação pelas chamadas economias emergentes, como a China ou a Índia, são absolutamente insustentáveis.
O colapso não aconteceu apenas em sociedades antigas. Conflitos como os do Ruanda, Haiti ou Somália, para além de causas imediatas, têm subjacentes graves crises ambientais.
Por outro lado, a ameaça de colapso não incide apenas sobre países do chamado Terceiro Mundo. A Austrália, embora longe de tal situação, enfrenta hoje uma série de problemas ambientais (relativos sobretudo à disponibilidade de água e de fertilidade dos solos) que tornam difícil suportar a sua actual população com o seu actual elevado padrão de vida.
Mas também existem casos positivos de sociedades que conseguiram inverter o rumo em direcção ao colapso. Foi o caso do Japão da era Tokugawa (séc. XVII) ou a Islândia.
4 comentários:
acho que a resposta à tua pergunta passa pela negação da perspectiva das sociedades vistas como entidades orgânicas, no sentido de terem vários sistemas de órgãos.
não são homogéneas e, mais importante, não funcionam como um todo que luta pela auto-preservação.
a sua destruição ou auto-preservação depende então das dinâmicas internas e de ligação com o exterior (definindo aqui exterior como ambiente, recursos naturais). depende ainda da existência de uma compreensão da dependência relativamente ao ambiente e da interiorização e aplicação dessa dependência na forma como a sociedade organiza as suas actividades.
Olá!
Exactamente. As sociedades, sobretudo as mais complexas, não são, por natureza, orgânicas, homogéneas. De modo que não desenvolvem por si uma espécie de instinto de sobrevivência.
As razões avançadas por Diamond são várias e muito interessantes e tentarei resumi-las em próximo "post"
Poderiamos dizer, contudo, que há sociedades mais "orgânicas" do que outras, devido à forma como estão organizadas. Uma sociedade, por exemplo, em que os dirigentes têm uma visão global dessa mesma sociedade, ou seja, compreendem os seus limites e a importância de cada parte para a sobrevivência do conjunto ( a tal orgânica); e em que o destino dos estratos sociais mais elevados está intimamente dependente do que possa acontecer ao resto da sociedade, tenderá a reagir melhor aos sinais de declínio
os estratos sociais mais elevados estão sempre dependentes doq ue acontece ao resto da sociedade. o que acontece é que esta relação não é directa: o que acontece (de bom ou de mau) nem sempre atinge as classes altas.
além disso, é preciso que as classes altas (e que geralmente constituem as elites políticas) percebam que estão tão dependentes das classes baixas como as baixas das altas. o problema é que essa dependência não é tão clara como a das classes baixas relativamente às altas, e as altas nunca estão muito dispostas a perceber a sua dependência, ou a qualquer coisa que fuja ao seu umbigo.
bom blog. :)
O problema aqui não é tanto a dependência mútua entre classes alta e baixa,que é real. Tradicionalmente a alta arranjava maneira de dominar a baixa e estava tudo resolvido.
Só que agora a dimensão e a natureza da crise ambiental são de tal ordem que as classes dominantes ou mesmo médias ( estamos a falar numa perpectiva nacional e internacional, ou seja, os cidadãos medios dos países desenvolvidos não poderão ignorar o que se passa no mundo pobre) não podem julgar-se objectivamente imunes,porque, por exemplo, ricos e pobres respiram o mesmo ar. Também a este propósito, "Colapso" fornece algumas pistas interessantes
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