A nossa Civilização Industrial é fundamentalmente fruto de um único recurso não renovável: o petróleo. Em última análise, praticamente tudo o que diz respeito à produção e consumo, seja de bens ou de serviços, depende do consumo de energia, cuja fonte fundamental tem sido o petróleo. As sociedades ocidentais tomaram como natural o consumo desenfreado de energia como se fosse inesgotável. Mas não é! Uma fé cega na tecnologia e no mercado descurou a prudência na utilização de recursos escassos, supondo um futuro milagre que nos proporcionaria com uma varinha mágica a solução para os nossos problemas energéticos. Esta situação, em vez de conduzir a estratégias de conservação e eficiência energética a nível global - com implicações na forma como organizamos as nossas cidades e o território em geral, os nossos transportes e a produção ( sobretudo nas mega cidades, mas também em países como Portugal, onde o centro de cidades como Lisboa se desertifica de povo e de comércio em benefício dos subúrbios, dos mega centros comerciais e de longos e intrincados eixos viários, forçando as deslocações) - continua a agravar-se com a paradoxal adopção do modelo ocidental pelas novas potências económicas emergentes como a China, o Brasil, a Índia, etc..
O Mundo está a entrar numa fase em que se afiguram duas opções fundamentais: ou continuamos como até aqui com um resultado certo, o colapso da Civilização, ou invertemos drasticamente a organização das nossas sociedades e economia, ganhando tempo até estabilizarmos a população mundial, ao mesmo tempo que investimos mais em investigação para obtenção de energias alternativas.
Os seguintes dados, retirados de um livro que provocou alguma agitação, merecem séria reflexão.
(tradução livre)
«Eis alguns factos salientes sobre a situação global do petróleo:
- A dotação planetária total de petróleo líquido convencional não renovável era grosso modo de dois biliões de barris antes da humanidade começar a sua exploração. Desde meados do Séc. XIX até hoje, o mundo queimou cerca de um bilião de barris de petróleo, metade do total que jamais existiu, representando a parte mais fácil de obter e a de maior qualidade. A metade que resta inclui o petróleo mais díficil de obter, líquidos de menor qualidade, semisólidos e sólidos.
- As descobertas de petróleo a nível global atingiram o seu pico em 1964 e têm seguido uma firme linha descendente desde então .
- A taxa de utilização de petróleo acelerou tremendamente desde 1950. A explosiva taxa de crescimento da população mundial ocorreu em paralelo com as nossas taxas de utilização do petróleo ( na realidade, o petróleo permitiu a explosão populacional).
- O mundo está agora a utilizar 27 mil milhões de barris de petróleo por ano. Se cada gota do bilião de barris remanescente pudesse ser extraído aos actuais rácios de custos e às actuais taxas de produção - o que é extremamente improvável - a totalidade da dotação existente duraria apenas mais uns 37 anos.
- Na realidade, uma parte substancial da metade remanescente do petróleo mundial nunca será recuperável.
- Após o pico de produção, a procura mundial excederá a capacidade mundial de produção de petróleo.
- Após o pico de produção, o esgotamento prosseguirá a 2 a 6% ao ano, enquanto a população mundial continuará a aumentar (por algum tempo)
- Mais de 60% do petróleo remanescente situa-se no Médio Oriente.
- Os Estados Unidos possuem 3% das reservas de petróleo remanescente no mundo, mas consumem 25% da produção diária mundial.
- Os Estados Unidos ultrapassaram o pico de produção em 1970 com a taxa anual de produção caindo para metade desde então - de cerca de 10 milhões de barris por dia em 1970 para pouco mais de 5 milhões em 2003.
- O rácio da energia despendida pela indústria petrolífera dos EUA para retirar o petróleo do subsolo relativamente à energia produzida por esse mesmo petróleo caíu de 28:1 em 1916 para 2:1 em 2004 e continuará a cair.»
in "The Long Emergency - Surviving the converging catastrophes of the twenty-first century"
James Howard Kunstler
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